ESTUDOS EM ECOFISIOLOGIA DO CAFEEIRO
Paccelli José Maracci Zähler
A Ecofisiologia Vegetal pode ser conceituada como a parte da Ecologia Vegetal que estuda as relações entre a Fisiologia Vegetal e os fatores ambientais (LARCHER, 1980), levando-se em conta dois conceitos básicos: o teleológico, isto é, o estudo dos caracteres adaptativos durante a ontogenia e a filogenia; e o descritivo, ou seja, a descrição quantitativa das relações energéticas entre os organismos e o meio ambiente (ECKARDT, 1965).
Segundo PANNIER(1975), a orientação teleológica da pesquisa ecofisiológica resulta na teoria na qual os fatores ambientais modificam progressivamente as estruturas e funções do vegetal, resultando em uma adaptação do seu indivíduo ao seu habitat particular.
Com relação ao cafeeiro, os conhecimentos obtidos no estudo de sua ecofisiologia podem ser utilizados na seleção de variedades mais produtivas (NUNES et al., 1969; SÖNDAHL et al., 1976); no controle de doenças fisiológicas (NUTMAN, 1937a); no manejo (CANNEL, 1971a); e na seleção de áreas favoráveis à cafeicultura (CAMARGO et al. , 1976; DANCER, 1963).
Os primeiros trabalho em ecofisiologia do cafeeiro (Coffea arabica) já reportavam uma queda na taxa de assimilação do CO2 nas horas do meio-do-dia, ou seja, das 10 às 14 horas (NUTMAN, 1937a; FRANCO, 1938) tendo sido explicada como devida ao comportamento estomático (NUTMAN, 1937 b). Um estudo posterior (HEATH e ORCHARD, 1957), em condições controladas, verificou que este fenômeno era uma resposta do estômato à alta concentração de CO2 no espaço intercelular, também observado por NUNES et al. (1968). Por outro lado, MAESTRI e VIEIRA (1958) notaram que os estômatos de um cafezal ao sol permaneceram abertos durante todo o dia e atribuíram esse fenômeno à ação reguladora da umidade do solo.
Segundo NUTMAN (1941), a taxa de transpiração seria altamente correlacionada com a radiação solar em moderadas intensidades desta, porém, menos correlacionada com altos valores; e que a radiação solar e o déficit de saturação do ar seriam responsáveis pela taxa diária de transpiração, independentemente da temperatura do ar. Já NUNES et al.(1968) observaram um aumento da taxa de transpiração com o aumento da temperatura ou da intensidade luminosa. BIERHUIZEN et al. (1969) concluíram que os estômatos controlam eficientemente a taxa de transpiração à medida que se esgota a água no solo, de modo que o balanço hídrico da planta não é muito afetado, esperando-se, no entanto, um aumento da temperatura da folha com a diminuição da quantidade de água no solo e que, devido à seca, haja um aumento da resistência do mesófilo. Verificaram um decréscimo na taxa de fotossíntese quando falta água no solo e que, após a retomada da rega, o restabelecimento da taxa fotossintética normal é bastante lenta (mais do que cinco dias).
A taxa de fotossíntese líquida de quatro variedades de café, sendo duas de Coffea arábica (S288-23 e Gimma) e duas de Coffea canephora (BP42y809 e SA34) , foi comparada em diferentes condições de luz e temperatura, até uma concentração de CO2 de 300 ppm, em laboratório (NUNES et al., 1969). Verificou-se que as variedades de Coffea arabica apresentaram uma taxa fotossintética superior às de Coffea canephora; e que a variedade Gimma apresentou uma queda na taxa de fotossíntese líquida em alta intensidade luminosa (290 Wm-2), o que foi atribuído à temperatura do ar elevada (23 °C), sugerindo-se que esta reação representa um efeito indireto da luz através de um aumento da temperatura da folha e do CO2 interno dos tecidos (NUNES et al., 1968). A mais alta taxa de fotossíntese ocorreu a uma temperatura de 20 °C.
O ponto de saturação de luz foi estimado em 77 Wm-2.
Utilizando 14CO2, SÖNDAHL et al. (1976) verificaram que os valores de fotossíntese líquida dos cultivares Mundo Novo e Catuaí não diferiram. A uma temperatura do ar ótima de 20 °C e uma intensidade de luz saturante de 77 Wm-2, sugeridas por NUNES et al. (1968), observaram que a taxa fotossintética dos cultivares de Coffea arabica (Mundo Novo, Catuaí, 1130-13 e H 6586-2) foi superior à de Coffea canephora (Guarini), concordando com NUNES et al. (1969). O ponto de compensação de CO2 para o cultivar Catuaí foi estimado em 65 ppm a 20 °C de temperatura do ar e 98 Wm-2 de intensidade luminosa.
O ponto de compensação de CO2 , no entanto, parece não possuir um valor fixo. JONES e MANSFIELD (1970) verificaram que, em uma temperatura de 20 °C e uma iluminação constante com luz fluorescente da ordem de 27 Wm-2 no nível das folhas superiores; e, recebendo um pré-tratamento com o fotoperíodo de 12 h, o café apresentou uma variação no ponto de compensação de CO2 com um período um pouco superior a 24 h (chamado de ritmo circadiano), provavelmente de origem endógena. Os autores sugerem que, quando houver um ritmo, as medições próximas do meio do fotoperíodo normal seriam mais apropriadas, evitando muitas variações de um experimento para outro, mesmo que os valores de CO2 no ponto de compensação variem muito.
Um estudo sobre a produção e a distribuição de matéria seca no cafeeiro (Coffea arabica cv. SL 28) foi realizado por CANNEL (1971a), em Ruiru, Quênia, objetivando o manejo da cultura naquela região. Verificou que cafeeiros com frutificação “leve” e cafeeiros com frutificação “pesada” (pequeno número de frutos e grande número de frutos por galho, respectivamente) produziram significativamente maior quantidade de matéria seca do que os cafeeiros sem frutificação,apesar de possuírem um índice de área foliar menor; e que o crescimento foliar, em termos de incremento de matéria seca, foi maior durante a estação chuvosa do que na estação seca. Sugeriu que o café pode produzir matéria seca rapidamente porque investe uma grande parte da matéria seca total na produção de folhas e, como conseqüência, pode utilizar as condições mais favoráveis à fotossíntese. Assumindo que, quanto maior o número de folhas em um cafeeiro em pleno sol, maior a sua capacidade fotossintética, CANNEL (1971 b) sugeriu que a taxa fotossintética do café é menor durante a estação seca, devido à temperatura foliar elevada (segundo suas observações a temperatura foliar chegou a 40 °C), à seca severa e à queda das folhas (que teria contribuído para a redução do índice de área foliar). Na estação chuvosa, como a temperatura do ar é mais amena, a incidência de radiação solar sobre a folha é atenuada pela presença de nuvens (dessa maneira, a temperatura da folha não se eleva em demasia) e, como não há problemas de seca em Ruiru, Quênia, o cafeeiro produz mais folhas e a taxa de fotossíntese, provavelmente, é maior.
Em uma revisão sobre os aspectos fisiológicos do cultivo do cafeeiro, CANNEL (1975) fala que a diminuição da taxa de fotossíntese líquida em altas temperaturas foliares é uma característica das plantas C3 em sua maioria; e que o meio ambiente normal, em plantações não sombreadas, pode ser desfavorável à fotossíntese desse cultivo, particularmente, quando as temperaturas foliares estão acima de 20 °C e as folhas expostas ao sol podem chegar a 40 °. Neste caso, há um aumento progressivo na fotorrespiração e na concentração interna de CO2, resultando em fechamento estomático. No campo, isto é normalmente associado com o aumento da demanda atmosférica por água (maior déficit hídrico) e com um decréscimo no potencial hídrico da folha, causando também um fechamento estomático.
A temperatura foliar do cafeeiro em ambiente tropical foi estudada por BUTLER (1977), o qual observou que as folhas expostas ao sol apresentavam uma temperatura entre 10 °C e 15 °C acima da temperatura do ar (cerca de 29 °C), concordando com a observação de CANNEL (1971 b), e que as folhas situadas à sombra apresentavam uma temperatura de 1 °C a 3 °C abaixo da temperatura do ar. Assim, quando a temperatura do ar era de cerca de 30 °C, as folhas situadas ao sol estavam acima de 40 °C, enquanto as folhas situadas à sombra abaixo de 30 °C. Estes resultados contrariam aqueles obtidos por NUNES et al. (1968), segundo os quais o cafeeiro seria ineficiente em temperaturas acima de 40 °C, temperatura muito comum em folhas expostas ao sol. O autor supõe que pode ter havido uma adaptação das plantas às altas temperaturas, em condições de campo, o que torna o seu comportamento diferente daquelas cultivadas em câmara de vegetação.
OROZCO e JARAMILLO (1978 b) observaram que as temperaturas foliares de plantas sem irrigação foram maiores que as temperaturas foliares de plantas irrigadas. Em Coffea arabica, a temperatura foliar variou de 26,3 °C a 30,7 °C, com um máximo de 35 °C, ultrapassando o nível ótimo estabelecido por outros autores (24 °C), o que viria a confirmar as observações de BUTLER (1977). Com relação ao cultivar Catuaí, acreditam que existe algum mecanismo que faz com que a temperatura das folhas de plantas submetidas a um déficit de umidade no solo permaneça próxima da temperatura do ar.
CAMARGO e SALATTI (1966) procuraram determinar a temperatura letal da folhagem do cafeeiro em noite de geada, concluindo que em uma temperatura de -2 °C começam a aparecer os primeiros danos nas folhas; a -3 °C, ocorreram danos graves e generalizados; e, em folhas cobertas com cristais de gelo, onde a temperatura foliar não foi inferior a -2 °C, não foram observados danos.
O acréscimo de um grau na temperatura do sistema radicular, entre 29 °C e 33 °C, resultou em um pronunciado decréscimo no crescimento das plantas (FRANCO, 1982 a). Nas temperaturas mais elevadas, os teores de fósforo e de magnésio aumentaram acentuadamente nas raízes e diminuíram nas partes aéreas, sugerindo que a translocação desses elementos para as partes aéreas foi grandemente prejudicada pelas temperaturas mais elevadas nas raízes, havendo também um pronunciado acúmulo de potássio, tanto nas raízes como nas partes aéreas (FRANCO, 1982 a). Quando a temperatura do solo atinge um valor máximo de 33 °C e assim permanece diariamente por um período de duas horas, provoca uma pequena redução no peso das partes aéreas e um decréscimo mais acentuado no peso das raízes em relação à temperatura ótima de 23 °C, sem afetar visivelmente a altura dos cafeeiros. Nas mesmas condições, à temperatura máxima de 38 °C, durante cerca de duas horas diariamente, resultou em um decréscimo acentuado na altura das plantas e nos pesos das partes aéreas e das raízes (FRANCO, 1982 b).
ALVIM (1968) chamou a atenção para o efeito da idade da folha na abertura estomática. Seus resultados mostraram que a abertura estomática foi muito maior no terceiro par de folhas que em qualquer outro par. No par mais jovem, a abertura foi menor que um terço do valor obtido no terceiro par ; e, em qualquer folha, a resistência ao fluxo de ar aumentou da base para o ápice, aparentemente indicando uma maior abertura estomática próxima à base da folha.
O efeito da idade da folha e da irradiância na fotossíntese de Coffea arabica foi estudado por YAMAGUCHI e FRIEND (1979), onde concluíram que a taxa fotossintética por unidade de área foliar atinge um ponto máximo 90 dias após a emergência foliar, declinando depois. A taxa de respiração no escuro diminuiu cerca de 30 dias após a emergência, bem como a irradiância de compensação, podendo ter sido uma das causas da fotossíntese ter aumentado com o aumento da idade foliar.
Uma correlação de 0,93 entre a abertura estomática de Coffea arabica e o conteúdo de umidade do solo a 3,0 m de profundidade, durante a estação seca; e uma correlação de 0,77, no período chuvoso, foram encontradas por WORMER (1965), em tratamento sem irrigação. Uma correlação inversa foi encontrada em tratamentos com irrigação. Este autor observou que a fertilização com nitrogênio aumentou a abertura estomática e que esta apresentava uma correlação com a temperatura do ar, o déficit de saturação do ar e a radiação, ficando difícil estabelecer qual fator era o mais importante.
TESHA e KUMAR (1978) concluíram que o nitrogênio e o potássio do solo influenciam a abertura do estômato do cafeeiro (concordando com os resultados de WORMER, 1965, no que tange ao nitrogênio do solo). O nitrogênio parece atuar como um elemento regulador. Quando o suprimento de água é pleno, há a abertura total do estômato; porém, quando o suprimento de água é inadequado, o nitrogênio reduz a abertura estomática. Como isto é realizado, ainda não está bem compreendido. O papel do potássio é conhecido como íons osmoticamente ativos, entretanto, verificaram que é necessário um esclarecimento sobre o efeito da redução do nível de potássio no solo sobre a abertura estomática do cafeeiro. A alta umidade atmosférica favoreceu a abertura estomática, provavelmente provocando um estado hídrico favorável em plantas não supridas de água de maneira adequada.
Segundo KUMAR e TIESZEN (1976), a alta umidade atmosférica favorece a fotossíntese do cafeeiro, provavelmente devido às resistências foliares mais baixas. As taxas fotossintéticas não caíram substancialmente até o potencial hídrico chegar próximo a -2,0 MPa, onde foi observada uma redução de 25% na taxa de fotossíntese, indicando que o cafeeiro é relativamente tolerante à redução do potencial hídrico. Mesmo a -3,0 ou -3,5 MPa, as folhas apresentavam alguma fotossíntese positiva. A taxa de transpiração seguiu o padrão das taxas fotossintéticas em todos os níveis do potencial hídrico da folha. A resistência foliar aumentou exatamente a -2,7 MPa, indicando que o estômato estava totalmente fechado. Os minerais NPK aumentaram a taxa fotossintética e reduziram a resistência estomática e a resistência à difusão do CO2 . O terceiro, quarto e quinto pares de folhas apresentaram as mais altas taxas de fotossíntese, sem diferenças significativas entre eles. Verificaram que não é necessariamente a posição das folhas que influencia a fotossíntese, mas a sua idade.
Os cafeeiros sombreados apresentaram taxas fotossintéticas bem maiores que a dos cafeeiros expostos ao sol. Enquanto a irradiância saturante dos cafeeiros sombreados era de 65 Wm-2, a dos cafeeiros expostos ao sol era de 130 Wm-2. As taxas fotossintéticas descresceram em temperaturas acima de 25 °C, aparentemente devido ao declínio da condutância do mesófilo, já que a condutância estomática permaneceu mais ou menos constante entre 25 °C e 35 °C (KUMAR e TIESZEN, 1980 a, 1980 b). Isso confirma as observações de HEATH e ORCHARD (1957) e de NUNES et al. (1968). Segundo estes autores, a fotossíntese em relação às mudanças no potencial hídrico da folhas pareceu mostrar três diferentes estágios. O primeiro, abaixo de -1,0 MPa, com uma taxa fotossintética de 27 mg CO2 m-2min-1 e uma resistência estomática de 8,3 s.cm-1; o segundo, abaixo de -2,0 MPa, com taxa fotossintética de 20 mgCO2m-2min-1 e resistência estomática de 10 s.cm-1; e o terceiro, em níveis ainda mais baixos, com a fotossíntese reduzida para uma média de 7 mgCO2m-2min-1 e resistência estomática de 33,3 s.cm-1.
Estudando o efeito de vários tratamentos de déficit de umidade no solo em introduções do gênero Coffea de quatro a seis meses de idade, OROZCO e JARAMILLO (1978 a) verificaram que o Café Catuaí foi a cultivar menos afetada pelo déficit prolongado de umidade no solo.
BARROS e MAESTRI (1974) não encontraram diferenças na periodicidade de crescimento entre órgãos vegetativos de cafeeiros irrigados e não irrigados. Observaram que, de setembro a meados de março, há uma fase de crescimento ativo e, de meados de março ao início de setembro, o crescimento do cafeeiro é reduzido. Parece que as baixas temperaturas de junho, julho e agosto estimulam o crescimento ativo a partir de setembro, enquanto os fotoperíodos curtos levam a planta ao estado de crescimento vegetativo reduzido de meados de março em diante; a precipitação pluviométrica parece determinar as taxas de crescimento no período de crescimento ativo. Verificaram uma redução na intensidade de crescimento em janeiro e fevereiro, em decorrência, provavelmente, de altas temperaturas e de altas intensidades de radiação solar. Sugeriram a possibilidade de uma competição por nutrientes ou hormônios (ou ambos) do tronco com ramos e folhas nos meses mais quentes do ano.
ALVIM (1960) verificou que, quando o cafeeiro é cultivado em solo mantido com umidade na capacidade de campo, os botões florais permanecem dormentes e não há formação de frutos. A irrigação ou a chuva somente induzem a abertura dos botões florais quando precedidos por um período de seca. O estresse hídrico é, aparentemente, essencial para quebrar a dormência dos botões florais do cafeeiro.
Segundo JARAMILLO e VALÊNCIA (1980), o número de flores do cafeeiro foi explicado significativamente pelo fotoperíodo, evaporação e variação de armazenamento de água no solo. PIRINGER e BORTHWICK (1955) observaram que o fotoperíodo crítico para a iniciação da floração pareceu estar entre 13 e 14 horas. A iniciação floral ocorreu em fotoperíodos de luz de 13 horas ou menos, mas não naqueles de 14 horas ou mais. O crescimento vegetativo foi afetado no sentido de que os fotoperíodos maiores produziram as ramas laterais significativamente maiores que nos casos de plantas cultivadas em dias curtos, havendo um aumento do número de nós e no comprimento dos entrenós. Quanto à iniciação da floração, o cafeeiro parece ser uma planta de dia curto. Em condições de dia longo, as plantas crescem vegetativamente.
BROWNING (1977) sugeriu que o fenômeno do florescimento gregário em Coffea arabica e a forma do seu controle podem ser vistos como uma estratégia adaptativa; e que uma considerável vantagem adaptativa pode existir em florescimentos síncronos espaçados, causados por fatores relacionados com a umidade em um clima caracterizado por uma alternativa regular de estações úmidas e secas e por uma alta demanda evaporativa. Por outro lado, tal padrão de florescimento aumenta as possibilidades de auto-cruzamento em espécies altamente compatíveis.
Os dados de MONACO et al. (1978) mostraram que a conclusão de PIRINGER e BORTHWICK (1955) de que, em conseqüência da exposição a dias longos, superiores a 14 horas, o cafeeiro apresentaria um crescimento vegetativo mais intenso e uma inibição do florescimento não é tão clara. Seus estudos com os cultivares Mundo Novo, Catuaí Amarelo, Bourbon Vermelho, Geisha e Semperflorens em fotoperíodos de 12 a 18 horas, indicaram que 18 horas de luz induzem crescimento mais intenso na altura e no número de entrenós e que o florescimento não foi afetado pelo comprimento do dia, embora os cultivares tenham reagido com diferentes intensidades. Sugeriram que o cafeeiro, uma vez induzido, independe de novos períodos de indução. O efeito parece permanecer por longo tempo e a idade dos tecidos parece ser elemento determinante na capacidade de indução e diferenciação das gemas florais.
Um estudo de JARAMILLO e SANTOS (1981) mostrou que a proporção de radiação global de onda curta retida pelo cultivar Catuaí foi de 95,8% com um coeficiente de extinção para a radiação global de 0,41 e uma refletividade média de 0,19.
Uma revisão de literatura abordando vários aspectos da ecofisiologia do cafeeiro com a influência dos fatores em sua distribuição, fotossíntese e produtividade, desenvolvimento vegetativo e reprodução, foi apresentada por MAESTRI e BARROS (1977) e por RENA e MAESTRI (1987).
Verifica-se que se faz necessário um conhecimento mais aprofundado do comportamento de cultivares do cafeeiro nas regiões produtoras, particularmente, no ambiente do cerrado.
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quarta-feira, junho 27, 2007
sábado, junho 23, 2007
ASPECTOS HISTÓRICOS DA INTRODUÇÃO DO CAFEEIRO NO CERRADO
ASPECTOS HISTÓRICOS DA INTRODUÇÃO DO CAFEEIRO NO CERRADO
Paccelli M. Zahler
O café, além da sua importância como produto de exportação em muitos países tropicais, é a principal planta utilizada como bebida no mundo, devido às suas propriedades estimulantes (HEISER Jr., 1977). Suas folhas têm sido utilizadas na forma de banhos, com reconhecidas propriedades terapêuticas (CRUZ, 1982).
Originário da região de Kaffa, na Etiópia (CRUZ, 1982), foi introduzido no Iêmen, provavelmente pelos árabes, no início do século dezessete (BORIN, 1971). Foi levado em 1690 para a Ilha de Java pelos holandeses, os quais, em 1706, enviaram mudas para o Jardim Botânico de Amsterdam (JOLY e LEITÃO FILHO, 1979). Em 1713, mudas destes pés foram levadas para o Jardim de Plantas de Paris e, suas sementes, enviadas para a Martinica, passando dali para os países da América Central e Colômbia (CAMARGO e TELLES Jr., 1953).
Em 1714, os holandeses levaram para a Guiana Holandesa (atual Suriname) sementes dos cafeeiros do Jardim Botânico de Amsterdam, passando dali para a Guiana Francesa, em 1718, sendo cultivadas nas proximidades de Caiena, sua capital.
Foi introduzido no Brasil em 1727, através de mudas trazidas de Caiena pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta (TOURINHO, 1962; BORIN, 1971), que para lá havia sido enviado em missão oficial. No mesmo ano, foi cultivado nas proximidades de Belém e, nos anos que se seguiram, seu cultivo estendeu-se a outros Estados, chegando, em 1774, a Goiás; e, um ano depois, a Minas Gerais. Em 1830, já haviam grandes cultivos em São Paulo, no Vale do Paraíba.
Com a consolidação da Revolução Industrial, no início do século dezenove, os países europeus puderam ampliar seus investimentos, ao mesmo tempo em que foi aumentado o consumo de bens até então considerados de luxo, como o café.
Separado de Portugal e sem possibilidades de investir na industrialização, o Brasil passou a se dedicar à exploração agrícola. O café, que até esse período não tinha muita expressão econômica, sendo inclusive utilizado como planta ornamental, passou a exercer um papel importante na economia brasileira. Mesmo atravessando algumas crises, a pior delas em 1930, quando o mercado internacional deixou de comprá-lo, tendo sido necessário queimar alguns estoques para que o preço fosse mantido (LOBO, 1967; ARRUDA, 1974) o café permaneceu como um dos nossos principais produtos de exportação.
Dentre as 120 espécies do gênero Coffea (CARVALHO, 1954), destacam-se o Café Arábica (Coffea arabica) e o Café Canefora (Coffea canephora), em especial, o Café Robusta (Coffea canephora var. robusta) (JACQUES-FÉLIX, 1968), responsáveis por 98% da produção mundial, sendo ainda cultivados cafés de menor expressão como o Coffea liberica e o Coffea abeokutae (BORIN, 1971).
O Café Arábica possui um número muito grande de variedades, as quais, dependendo do método de colheita, tratamento dos frutos colhidos e condições climáticas da região, produzem uma bebida de fina qualidade.
A mais antiga variedade de Café Arábica introduzida no Brasil foi a typica (Coffea arabica var. typica Cramer, 1913), conhecida regionalmente pelos nomes de Café Comum, Nacional, Brasil, Crioulo ou Sumatra (KRUG et al., 1938), tendo sido considerada pelo Instituto Agronômico de Campinas – IAC como o tipo padrão nos estudos de taxonomia e genética (CARVALHO, 1954). Sua anatomia foi estudada para servir de base de comparação com outras variedades de café (DEDECCA, 1957).
Mais tarde, como produto de um programa de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, surgiu o Café Catuaí (Coffea arabica cv. catuai), o qual, em condições controladas, apresentou uma produção semelhante à do Café Mundo Novo (SÖNDAHL et. al., 1976), que tem predominado na maioria das culturas brasileiras por sua excelente capacidade produtiva (JOLY e LEITÃO FILHO, 1979).
De um modo geral, a cultura do café tem apresentado problemas de baixa produtividade no Brasil, em relação ao que é alcançado em outro países (BORIN, 1971) e isso se deve a diversos fatores, tanto de manejo como ambientais e genéticos. Para conhecer e encontrar soluções para tais problemas estão sendo feitos estudos de taxonomia, citologia, fisiologia, melhoramento genético e manejo dos diversos cultivares, os quais têm contribuído para a obtenção de novos cultivares geneticamente capazes de reagir ao ambiente onde se desenvolvem (ANTUNES FILHO, 1954). Entretanto, em condições de campo, o potencial genético nem sempre consegue se manifestar com eficiência, devido às diferenças entre os indivíduos da mesma espécie ou fato de que o cultivar foi selecionado e estabelecido em diferentes condições ambientais. Isso faz com que se adaptem melhor que outros em determinadas condições ambientais (MEDINA, 1977).
Em 1974, a Cooperativa Agrícola de Cotia – Cooperativa Central (CAC-CC), com a colaboração de entidades federais e estaduais, passou a executar o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), no cerrado do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, para cerca de noventa associados, dando-lhes assistência nas culturas de soja, trigo e café (CASTRO, 1979). Nos primeiros plantios, empregou-se o Café Mundo Novo e, mais tarde, o Café Catuaí, que se mostrou bastante produtivo naquelas condições (Café..., 1980).
No Distrito Federal, o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC-EMBRAPA), em 1984, possuía uma plantação com diferentes cultivares de café, onde o Catuaí, além de ser mais produtivo, mostrava-se resistente às principais doenças do cafeeiro (Engº Agrº João Batista Ravaes Sampaio, informações pessoais dadas em 1984).
Na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília – UnB, havia um experimento de concorrência de cultivares, instalado em 1977, conduzido pelo Prof. Joachim von Büllow, do Departamento de Agronomia, onde o Café Catuaí, mostrava-se mais produtivo em relação aos cultivares Icatu e Mundo Novo, além de apresentar características agronômicas mais desejáveis que o cultivar Mundo Novo, como: menor exigência quanto à fertilidade do solo; menor queda de frutos por agentes mecânicos (chuvas, granizo, ventos, capina e pulverizações); boa formação da saia, dificultando a incidência de ervas daninhas e mantendo o solo mais protegido; porte baixo e maior resistência às doenças (Café..., 1980).
Por outro lado, apresentava suscetibilidade ao bicho-mineiro (Perileucoptera coffeella Guérin-Meéville, 1842), ao ácaro vermelho (Oligonychus ilicis McGregor, 1919) e à ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. E Br., 1968) (CARVALHO et. al., 1979), o que ainda não havia sido observado no Distrito Federal (Engº Agrº João Batista Ravaes Sampaio, CPAC-EMBRAPA, informações pessoais dadas em 1984).
Tais observações de campo faziam do Café Catuaí um cultivar promissor nas condições ambientais do cerrado, particularmente, do Distrito Federal, onde o clima é tropical, mesotérmico, úmido, com seca no inverno e chuva no verão (tipo Cwa, da classificação de Köppen), e áreas com altitudes superiores a 800 metros, tornando-o climaticamente apto à cafeicultura (BRASIL, 1981) que, em 1989, ocupava o segundo lugar em área colhida entre os cultivos permanentes da região (CODEPLAN, 1989) e,segundo o IBGE (2007), em 1996, era cultivado em 2.887 hectares, com um valor de produção de pouco mais de 1 milhão de reais.
BIBLIOGRAFIA
ANTUNES FILHO, H. Melhoramento do cafeeiro – II – projetos em execução no Instituto Agronômico de Campinas. In: I Curso de Cafeicultura. 1954. Campinas: IAC, 1957.
ARRUDA, J. J. História moderna e contemporânea. São Paulo:Ática, 1974.
BORIN, J. Introdução ao estudo do café. São Paulo: LPM, 1971.
BRASIL. Ministério da Indústria e Comércio. IBC/GERCA (ed.). Cultura de café no Brasil: manual de recomendações. Rio de Janeiro, 1981.
Café conquista espaço no cerrado. Dirigente Rural, 19(10):55-64. 1980.
CAMARGO, R. de e TELLES Jr., A. de Q. O café no Brasil – sua aclimatação e industrialização. Rio de Janeiro: Ministério da Agricultura, 1953.
CARVALHO, A. Sistemática do gênero Coffea e descrição das variedades econômicas de C. arabica. In: I Curso de Cafeicultura 1954. Campinas:IAC, 1957.
CARVALHO, A., MONACO, L.C. e FAZUOLI, L.C. Melhoramento do cafeeiro. XL – estudos de progênies e híbridos de Café Catuaí. Bragantia, 38(22):201-216. 1979.
CASTRO, J.B. de. Café em cerrado do Alto Paranaíba, MG. Jornal “O Estado de São Paulo”. Suplemento Agrícola nº 1237. 21/02/1979, p. 3. 1979.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DO PLANALTO CENTRAL (CODEPLAN). Anuário estatístico do Distrito Federal. Brasília:CODEPLAN, 1989.
CRUZ, G.L. Dicionário das plantas úteis do Brasil. Rio de Janeiro. DIFEL/Civilização Brasileira, 1982.
DEDECCA, D.M. Anatomia e desenvolvimento ontogenético de Coffea arabica L. var. cramer. Bragantia, 16(23):315-366. 1957.
HEISER Jr., C.B. Sementes para a civilização:a história da alimentação humana. São Paulo:Companhia Editora Nacional/EDUSP, 1977.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 1995-1996 – Distrito Federal. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br. Acesso em: 06.jun.2007.
JACQUES-FÉLIX, H. Le café. Paris:Presses Universitaires de France. 1968.
JOLY, A. B. e LEITÃO FILHO, H.F. Botânica econômica:as principais culturas brasileiras. São Paulo:EDUSP/HUCITEC, 1979.
KRUG, C.A., MENDES, J.E.T. e CARVALHO, A. Taxonomia de Coffea arabica L.:descrição de variedades e formas encontradas no Estado de São Paulo. Campinas:IAC, 1938.
LOBO, H. História econômica geral e do Brasil. São Paulo:Atlas, 1967.
MEDINA, E. Introducción a la ecofisiologia vegetal. Washington: OEA, 1977.
SÖNDAHL, M.R., CROCOMO, O.J. e SODEK, L. Measurements of 14C invorporation by illuminated intact leaves of coffee plants from gas mixtures containing 14CO2. Journal of Experimental Botany, 27(101):1187-1195, 1976.
TOURINHO, E. Breve história da formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro:Pongetti, 1962.
Paccelli M. Zahler
O café, além da sua importância como produto de exportação em muitos países tropicais, é a principal planta utilizada como bebida no mundo, devido às suas propriedades estimulantes (HEISER Jr., 1977). Suas folhas têm sido utilizadas na forma de banhos, com reconhecidas propriedades terapêuticas (CRUZ, 1982).
Originário da região de Kaffa, na Etiópia (CRUZ, 1982), foi introduzido no Iêmen, provavelmente pelos árabes, no início do século dezessete (BORIN, 1971). Foi levado em 1690 para a Ilha de Java pelos holandeses, os quais, em 1706, enviaram mudas para o Jardim Botânico de Amsterdam (JOLY e LEITÃO FILHO, 1979). Em 1713, mudas destes pés foram levadas para o Jardim de Plantas de Paris e, suas sementes, enviadas para a Martinica, passando dali para os países da América Central e Colômbia (CAMARGO e TELLES Jr., 1953).
Em 1714, os holandeses levaram para a Guiana Holandesa (atual Suriname) sementes dos cafeeiros do Jardim Botânico de Amsterdam, passando dali para a Guiana Francesa, em 1718, sendo cultivadas nas proximidades de Caiena, sua capital.
Foi introduzido no Brasil em 1727, através de mudas trazidas de Caiena pelo sargento-mor Francisco de Mello Palheta (TOURINHO, 1962; BORIN, 1971), que para lá havia sido enviado em missão oficial. No mesmo ano, foi cultivado nas proximidades de Belém e, nos anos que se seguiram, seu cultivo estendeu-se a outros Estados, chegando, em 1774, a Goiás; e, um ano depois, a Minas Gerais. Em 1830, já haviam grandes cultivos em São Paulo, no Vale do Paraíba.
Com a consolidação da Revolução Industrial, no início do século dezenove, os países europeus puderam ampliar seus investimentos, ao mesmo tempo em que foi aumentado o consumo de bens até então considerados de luxo, como o café.
Separado de Portugal e sem possibilidades de investir na industrialização, o Brasil passou a se dedicar à exploração agrícola. O café, que até esse período não tinha muita expressão econômica, sendo inclusive utilizado como planta ornamental, passou a exercer um papel importante na economia brasileira. Mesmo atravessando algumas crises, a pior delas em 1930, quando o mercado internacional deixou de comprá-lo, tendo sido necessário queimar alguns estoques para que o preço fosse mantido (LOBO, 1967; ARRUDA, 1974) o café permaneceu como um dos nossos principais produtos de exportação.
Dentre as 120 espécies do gênero Coffea (CARVALHO, 1954), destacam-se o Café Arábica (Coffea arabica) e o Café Canefora (Coffea canephora), em especial, o Café Robusta (Coffea canephora var. robusta) (JACQUES-FÉLIX, 1968), responsáveis por 98% da produção mundial, sendo ainda cultivados cafés de menor expressão como o Coffea liberica e o Coffea abeokutae (BORIN, 1971).
O Café Arábica possui um número muito grande de variedades, as quais, dependendo do método de colheita, tratamento dos frutos colhidos e condições climáticas da região, produzem uma bebida de fina qualidade.
A mais antiga variedade de Café Arábica introduzida no Brasil foi a typica (Coffea arabica var. typica Cramer, 1913), conhecida regionalmente pelos nomes de Café Comum, Nacional, Brasil, Crioulo ou Sumatra (KRUG et al., 1938), tendo sido considerada pelo Instituto Agronômico de Campinas – IAC como o tipo padrão nos estudos de taxonomia e genética (CARVALHO, 1954). Sua anatomia foi estudada para servir de base de comparação com outras variedades de café (DEDECCA, 1957).
Mais tarde, como produto de um programa de melhoramento genético do Instituto Agronômico de Campinas – IAC, surgiu o Café Catuaí (Coffea arabica cv. catuai), o qual, em condições controladas, apresentou uma produção semelhante à do Café Mundo Novo (SÖNDAHL et. al., 1976), que tem predominado na maioria das culturas brasileiras por sua excelente capacidade produtiva (JOLY e LEITÃO FILHO, 1979).
De um modo geral, a cultura do café tem apresentado problemas de baixa produtividade no Brasil, em relação ao que é alcançado em outro países (BORIN, 1971) e isso se deve a diversos fatores, tanto de manejo como ambientais e genéticos. Para conhecer e encontrar soluções para tais problemas estão sendo feitos estudos de taxonomia, citologia, fisiologia, melhoramento genético e manejo dos diversos cultivares, os quais têm contribuído para a obtenção de novos cultivares geneticamente capazes de reagir ao ambiente onde se desenvolvem (ANTUNES FILHO, 1954). Entretanto, em condições de campo, o potencial genético nem sempre consegue se manifestar com eficiência, devido às diferenças entre os indivíduos da mesma espécie ou fato de que o cultivar foi selecionado e estabelecido em diferentes condições ambientais. Isso faz com que se adaptem melhor que outros em determinadas condições ambientais (MEDINA, 1977).
Em 1974, a Cooperativa Agrícola de Cotia – Cooperativa Central (CAC-CC), com a colaboração de entidades federais e estaduais, passou a executar o Programa de Assentamento Dirigido do Alto Paranaíba (PADAP), no cerrado do Alto Paranaíba, em Minas Gerais, para cerca de noventa associados, dando-lhes assistência nas culturas de soja, trigo e café (CASTRO, 1979). Nos primeiros plantios, empregou-se o Café Mundo Novo e, mais tarde, o Café Catuaí, que se mostrou bastante produtivo naquelas condições (Café..., 1980).
No Distrito Federal, o Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC-EMBRAPA), em 1984, possuía uma plantação com diferentes cultivares de café, onde o Catuaí, além de ser mais produtivo, mostrava-se resistente às principais doenças do cafeeiro (Engº Agrº João Batista Ravaes Sampaio, informações pessoais dadas em 1984).
Na Fazenda Água Limpa da Universidade de Brasília – UnB, havia um experimento de concorrência de cultivares, instalado em 1977, conduzido pelo Prof. Joachim von Büllow, do Departamento de Agronomia, onde o Café Catuaí, mostrava-se mais produtivo em relação aos cultivares Icatu e Mundo Novo, além de apresentar características agronômicas mais desejáveis que o cultivar Mundo Novo, como: menor exigência quanto à fertilidade do solo; menor queda de frutos por agentes mecânicos (chuvas, granizo, ventos, capina e pulverizações); boa formação da saia, dificultando a incidência de ervas daninhas e mantendo o solo mais protegido; porte baixo e maior resistência às doenças (Café..., 1980).
Por outro lado, apresentava suscetibilidade ao bicho-mineiro (Perileucoptera coffeella Guérin-Meéville, 1842), ao ácaro vermelho (Oligonychus ilicis McGregor, 1919) e à ferrugem do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. E Br., 1968) (CARVALHO et. al., 1979), o que ainda não havia sido observado no Distrito Federal (Engº Agrº João Batista Ravaes Sampaio, CPAC-EMBRAPA, informações pessoais dadas em 1984).
Tais observações de campo faziam do Café Catuaí um cultivar promissor nas condições ambientais do cerrado, particularmente, do Distrito Federal, onde o clima é tropical, mesotérmico, úmido, com seca no inverno e chuva no verão (tipo Cwa, da classificação de Köppen), e áreas com altitudes superiores a 800 metros, tornando-o climaticamente apto à cafeicultura (BRASIL, 1981) que, em 1989, ocupava o segundo lugar em área colhida entre os cultivos permanentes da região (CODEPLAN, 1989) e,segundo o IBGE (2007), em 1996, era cultivado em 2.887 hectares, com um valor de produção de pouco mais de 1 milhão de reais.
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CARVALHO, A. Sistemática do gênero Coffea e descrição das variedades econômicas de C. arabica. In: I Curso de Cafeicultura 1954. Campinas:IAC, 1957.
CARVALHO, A., MONACO, L.C. e FAZUOLI, L.C. Melhoramento do cafeeiro. XL – estudos de progênies e híbridos de Café Catuaí. Bragantia, 38(22):201-216. 1979.
CASTRO, J.B. de. Café em cerrado do Alto Paranaíba, MG. Jornal “O Estado de São Paulo”. Suplemento Agrícola nº 1237. 21/02/1979, p. 3. 1979.
COMPANHIA DE DESENVOLVIMENTO DO PLANALTO CENTRAL (CODEPLAN). Anuário estatístico do Distrito Federal. Brasília:CODEPLAN, 1989.
CRUZ, G.L. Dicionário das plantas úteis do Brasil. Rio de Janeiro. DIFEL/Civilização Brasileira, 1982.
DEDECCA, D.M. Anatomia e desenvolvimento ontogenético de Coffea arabica L. var. cramer. Bragantia, 16(23):315-366. 1957.
HEISER Jr., C.B. Sementes para a civilização:a história da alimentação humana. São Paulo:Companhia Editora Nacional/EDUSP, 1977.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Agropecuário 1995-1996 – Distrito Federal. Disponível em: http:// www.ibge.gov.br. Acesso em: 06.jun.2007.
JACQUES-FÉLIX, H. Le café. Paris:Presses Universitaires de France. 1968.
JOLY, A. B. e LEITÃO FILHO, H.F. Botânica econômica:as principais culturas brasileiras. São Paulo:EDUSP/HUCITEC, 1979.
KRUG, C.A., MENDES, J.E.T. e CARVALHO, A. Taxonomia de Coffea arabica L.:descrição de variedades e formas encontradas no Estado de São Paulo. Campinas:IAC, 1938.
LOBO, H. História econômica geral e do Brasil. São Paulo:Atlas, 1967.
MEDINA, E. Introducción a la ecofisiologia vegetal. Washington: OEA, 1977.
SÖNDAHL, M.R., CROCOMO, O.J. e SODEK, L. Measurements of 14C invorporation by illuminated intact leaves of coffee plants from gas mixtures containing 14CO2. Journal of Experimental Botany, 27(101):1187-1195, 1976.
TOURINHO, E. Breve história da formação econômica do Brasil. Rio de Janeiro:Pongetti, 1962.
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