terça-feira, junho 13, 2006

Considerações sobre a crise ambiental da atualidade

CONSIDERAÇÕES SOBRE A CRISE AMBIENTAL DA ATUALIDADE
Paccelli M. Zahler
Partindo do conceito técnico de que ecologia é o estudo da interdependência e da interação entre os organismos vivos (animais e plantas) e o seu meio ambiente, conforme definição de Ernst Haeckel, em 1866, o Frei Leonardo Boff, em seu ensaio “Ecologia: um novo paradigma”, leva-nos a uma reflexão sobre a necessidade da ampliação desse conceito para chegarmos a uma solução para a crise ambiental que hoje vivenciamos.
A história nos mostra que cada cultura, cada sociedade, tem a sua forma característica de educar, tendo como objetivo o desenvolvimento dos seus indivíduos.
A nossa educação felizmente ou infelizmente tem forte influência da sociedade ocidental moderna, que coloca o homem como um ser desvinculado da natureza. Em outras palavras, a natureza deve servir ao homem e este deve dotar-se de conhecimentos e tecnologia para dominá-la.
Essa visão antropocêntrica promoveu o desenvolvimento de tecnologias para retirar o máximo dos recursos naturais em velocidades e intensidades de utilização tão grandes que não tem havido tempo hábil para a natureza se recuperar. Dessa maneira, aumentam o consumo, a produção de resíduos tóxicos, provocando uma crise ambiental.
Pela sua complexidade, a crise ambiental dos dias de hoje envolve condições sociais, econômicas e ambientais, em vista das desigualdades resultantes da produção de bens a partir da exploração e do consumo dos recursos naturais.
Os resíduos produzidos acabam se acumulando no meio ambiente em quantidades superiores a que este pode suportar, causando problemas locais, regionais, nacionais ou planetários por um tempo considerável e nem sempre são sentidos em curto prazo.
Já no final do século XIX, o geógrafo Jean Brunhes (Toulouse, 1869;Boulogne-sur-Seine, 1930), grande viajante e precursor da geografia humana na França, autor de Géographie humaine (1910), Géographie humaine de la France (1920-1926), alertava que toda a exploração dos recursos naturais era feita sem uma preocupação com o ritmo natural de sua reposição.
Nos dias de hoje, os principais problemas ambientais enfrentados pela humanidade são: o efeito estufa, que pode causar uma elevação da temperatura terrestre acarretando o aumento do nível dos mares e a desertificação; a redução da camada de ozônio, responsável pelo aparecimento do câncer de pele, cataratas e problemas no sistema imunológico; as chuvas ácidas, relacionadas com problemas no sistema respiratório e cardiovascular somado à morte de florestas e lagos; a perda da biodiversidade, devido ao desmatamento de grandes florestas para a implantação de projetos agropecuários baseados na monocultura e na criação extensiva de gado; e o acúmulo de resíduos sólidos e dejetos industriais, que permanecem por muito tempo no ambiente, como os resíduos nucleares, que afetam as populações humanas, animais e vegetais.
Diante desse cenário, o Frei Leonardo Boff destaca a necessidade de se pensar em uma ecologia holística, ou seja, “em uma prática e uma teoria que relaciona e inclui todos os seres entre si”, de forma interdisciplinar, pois tudo e todos estão inter-relacionados. Além disso, defende a tese de que todos os seres são importantes, não existindo o “direito dos mais fortes”; e sugere que o modelo de crescimento deve ser adequado às limitações dos recursos naturais.
É interessante que o conceito de ecologia holística defendida pelo Frei Leonardo Boff:
“[...]numa perspectiva do infinitamente pequeno das partículas elementares (quarks), do infinitamente grande dos espaços cósmicos, do infinitamente profundo do coração humano e do infinitamente misterioso do oceano ilimitado de energia primordial do qual tudo promana (vácuo quântico, imagem de Deus)”
guarda alguma semelhança com a Tábua de Esmeralda do ocultista Hermes Trismegisto, supostamente o pai da Ciência Oculta, fundador da Astrologia, descobridor da Alquimia, que teria vivido no Antigo Egito, considerado o Mestre dos Mestres, que diz:
“[...] o que é Inferior é como o que é Superior e o que é Superior é como o que é Inferior; por tais coisas se fazem os milagres do Rei Uno, é como todas as coisas são e procedem do Uno pela mediação do Uno, assim, todas as coisas nasceram desta coisa única, por adaptação[...]”
Certamente, o Frei Leonardo Boff não teve a intenção de basear-se em Hermes Trismegisto, mesmo porque a sua preocupação está em mostrar o quanto a natureza está inter-relacionada e que o homem, como parte dela, não pode continuar cultivando a idéia de que pode dominá-la sem sofrer as conseqüências dos seus atos. Assim, ele relaciona a situação atual do mundo com o “estado da psique humana”, isto é, nossa ecologia exterior nada mais é que um reflexo da ecologia interior, razão pela qual devemos mudar nosso forma de pensar, de ver e agir sobre a natureza.

Bibliografia consultada:
SENAC. Sociedade, natureza e desenvolvimento. Bloco temático I. E-book do Curso de Educação Ambiental, Brasília, Distrito Federal, 2006.
BOFF, Leonardo. Ecologia:um novo paradigma. In: Ecologia, mundialização e espiritualização, Editora Ática, 1993.
TRISMEGISTO, Hermes. Tábua de esmeralda (tradução de Felipe Villanova).Disponível em: http://www.paginas.terra.com.br/arte/sfv/TabuaDeEsmeralda.html. Acesso em:25.maio.2006.
ANÔNIMO. Biografia de Hermes Trismegisto. Disponível em: http://www.thecauldronbrasil.com.br/article/articleveiw/148/1/18/. Acesso em: 25.maio.2006.

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