sábado, julho 24, 2004
A REGULAMENTAÇÃO DO TRÂNSITO INTERNACIONAL DE VEGETAIS (II)
Paccelli M. Zahler
Para evitar a disseminação de pragas entre os países, o trânsito internacional de vegetais precisa ser regulamentado.Isto é feito por meio de acordos internacionais como a Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais (CIPV/FAO), o Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (SPS/OMC), acordos regionais e bilaterais.
Cada signatário da Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais (CIPV/FAO), tem os seguintes compromissos básicos:
a) A criação de uma organização nacional de proteção fitossanitária (ONPF);
b) A manutenção de uma infra-estrutura de vigilância fitossanitária;
c) A troca de informações fitossanitárias com os demais signatários;
d) A ampla divulgação de seus atos, por meio de publicação oficial;
e) A adoção de uma documentação padronizada.
Já os signatários do Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias da Organização Mundial do Comércio (SPS/OMC) têm o compromisso de:
a) Aplicar restrições fitossanitárias ao comércio desde que tecnicamente justificadas;
b) Embasar suas restrições em análises de risco de pragas (ARP);
c) Reconhecer a equivalência dos tratamentos quarentenários;
d) Não exigir requisitos fitossanitários além do mínimo necessário;
e) Não travar o comércio internacional.
Nos dois acordos, é altamente recomendada a realização de Acordos Regionais com os mesmos compromissos básicos, com vistas à solução de problemas específicos. Esta foi a razão do surgimento do:
a) Comitê de Sanidade Vegetal do Cone Sul (COSAVE), reunindo Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai;
b) European Plant Protection Organization (EPPO), integrada por países europeus;
c) North American Plant Protection Organization (NAPPO), com Canadá, EUA e México; e
d) Organismo Internacional Regional de Sanidade Agropecuária (OIRSA), integrado pela Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua e Panamá.
Da mesma forma, são incentivados os acordos fitossanitários bilaterais entre os signatários para:
a) A facilitação do comércio;
b) A cooperação fitossanitária; e
c) A solução de controvérsias.
Este último item é muito importante, pois, tanto a CIPV/FAO como o SPS/OMC recomendam que os países procurem resolver seus problemas entre si antes de os levarem aos fóruns regionais e internacionais.
É importante salientar que todos os acordos devem ser publicados no Diário Oficial da União para terem valor legal. Tirante isto, não passariam de recomendações técnicas.
quinta-feira, julho 22, 2004
A REGULAMENTAÇÃO DO TRÂNSITO INTERNACIONAL DE VEGETAIS (I)
Paccelli M. Zahler
O mundo tem presenciado um incremento populacional. Estima-se que, por volta de 2030, o total de habitantes chegue a oito bilhões.Conseqüentemente, tem havido uma demanda crescente por alimentos e, por sua vez, uma ampliação das áreas cultivadas.
Paralelamente, os meios de transporte estão se tornando mais ágeis, possibilitando um incremento do comércio internacional. Para se ter uma idéia, nos últimos cinco anos, as exportações de frutas brasileiras tiveram um aumento de 80,2 %.
A ampliação das áreas cultivadas, a monocultura, a falta de boas práticas agrícolas e a troca de mercadorias entre regiões e países têm aumentado os riscos de introdução de novas pragas.
Para a redução desses riscos, além da educação fitossanitária, é necessário regulamentar o trânsito de vegetais. Isto pode ser feito por organismos internacionais (FAO/ONU, SPS/OMC); acordos regionais (COSAVE, EPPO, NAPPO, OIRSA); acordos fitossanitários bilaterais; e legislação filtossanitária nacional (Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal), com o objetivo de impedir ou retardar a disseminação de pragas entre países ou entre regiões de um mesmo país.
O mundo tem presenciado um incremento populacional. Estima-se que, por volta de 2030, o total de habitantes chegue a oito bilhões.Conseqüentemente, tem havido uma demanda crescente por alimentos e, por sua vez, uma ampliação das áreas cultivadas.
Paralelamente, os meios de transporte estão se tornando mais ágeis, possibilitando um incremento do comércio internacional. Para se ter uma idéia, nos últimos cinco anos, as exportações de frutas brasileiras tiveram um aumento de 80,2 %.
A ampliação das áreas cultivadas, a monocultura, a falta de boas práticas agrícolas e a troca de mercadorias entre regiões e países têm aumentado os riscos de introdução de novas pragas.
Para a redução desses riscos, além da educação fitossanitária, é necessário regulamentar o trânsito de vegetais. Isto pode ser feito por organismos internacionais (FAO/ONU, SPS/OMC); acordos regionais (COSAVE, EPPO, NAPPO, OIRSA); acordos fitossanitários bilaterais; e legislação filtossanitária nacional (Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal), com o objetivo de impedir ou retardar a disseminação de pragas entre países ou entre regiões de um mesmo país.
domingo, julho 18, 2004
A EDUCAÇÃO FITOSSANITÁRIA E A PREVENÇÃO DE PRAGAS
A EDUCAÇÃO FITOSSANITÁRIA E A PREVENÇÃO DE PRAGAS
Paccelli M. Zahler
A educação fitossanitária sempre foi uma das minhas preocupações ao longo de dezenove anos trabalhando na área de defesa sanitária vegetal. Considero que, não necessariamente, precisa ser formal, com a inclusão de uma disciplina específica nas escolas e faculdades de Agronomia.
Os programas de rádio e televisão, as leituras de revistas e livros técnicos sobre pragas específicas dos cultivos agrícolas, as observações práticas de campo, a participação em seminários, palestras e congressos de fitopatologia e entomologia, o acompanhamento das publicações das normas fitossanitárias no Diário Oficial da União, constituem-se em meios de se obter uma educação fitossanitária permanente.
Não há agricultor que não saiba que muitas pragas (fungos, bactérias, nematóides, vírus, ervas daninhas) são transmitidas por sementes. Daí a importância de se fazer um tratamento químico das mesmas antes da semeadura.
Hoje, existem variedades resistentes a muitas pragas comuns na região de cultivo e a seleção da variedade auxilia na prevenção das pragas, resultando em redução do uso de agrotóxicos.
Por falar em agrotóxicos, popularmente conhecidos como venenos, todos estão conscientes da obrigatoriedade de consultar um engenheiro agrônomo para avaliar se a sua aplicação é necessária, em que dosagem, com qual equipamento, além da emissão do receituário agronômico para a aquisição do produto nas lojas especializadas.
A planta não vive sem nutrientes, os quais são retirados do solo. Portanto, uma adubação adequada é fundamental para se obter uma boa produtividade.
Determinadas pragas são transmitidas pelas embalagens de madeira reutilizadas, que não foram submetidas à desinfecção ou expurgo. Isto significa que é necessário substituí-las ou tratá-las com produtos químicos específicos para evitar a contaminação das frutas e hortaliças nelas acondicionadas.
Estes são exemplos de ações mínimas que podem reduzir a incidência de pragas na lavoura.
É comum os produtores e comerciantes alegarem que tais medidas aumentam os custos da produção.
Cabe perguntar: “Quanto gasta o governo federal em uma campanha de erradicação de pragas? Quantos produtores são prejudicados com a ocorrência de novas pragas (p. ex. bicudo do algodoeiro, sigatoka negra, vespa da madeira, ferrugem da soja...)?Quem paga a conta?”
A educação fitossanitária, no meu entender, significa “consciência fitossanitária” e contribui para a prevenção da ocorrência de pragas nas lavouras, evitando gastos futuros com campanhas de erradicação.
Paccelli M. Zahler
A educação fitossanitária sempre foi uma das minhas preocupações ao longo de dezenove anos trabalhando na área de defesa sanitária vegetal. Considero que, não necessariamente, precisa ser formal, com a inclusão de uma disciplina específica nas escolas e faculdades de Agronomia.
Os programas de rádio e televisão, as leituras de revistas e livros técnicos sobre pragas específicas dos cultivos agrícolas, as observações práticas de campo, a participação em seminários, palestras e congressos de fitopatologia e entomologia, o acompanhamento das publicações das normas fitossanitárias no Diário Oficial da União, constituem-se em meios de se obter uma educação fitossanitária permanente.
Não há agricultor que não saiba que muitas pragas (fungos, bactérias, nematóides, vírus, ervas daninhas) são transmitidas por sementes. Daí a importância de se fazer um tratamento químico das mesmas antes da semeadura.
Hoje, existem variedades resistentes a muitas pragas comuns na região de cultivo e a seleção da variedade auxilia na prevenção das pragas, resultando em redução do uso de agrotóxicos.
Por falar em agrotóxicos, popularmente conhecidos como venenos, todos estão conscientes da obrigatoriedade de consultar um engenheiro agrônomo para avaliar se a sua aplicação é necessária, em que dosagem, com qual equipamento, além da emissão do receituário agronômico para a aquisição do produto nas lojas especializadas.
A planta não vive sem nutrientes, os quais são retirados do solo. Portanto, uma adubação adequada é fundamental para se obter uma boa produtividade.
Determinadas pragas são transmitidas pelas embalagens de madeira reutilizadas, que não foram submetidas à desinfecção ou expurgo. Isto significa que é necessário substituí-las ou tratá-las com produtos químicos específicos para evitar a contaminação das frutas e hortaliças nelas acondicionadas.
Estes são exemplos de ações mínimas que podem reduzir a incidência de pragas na lavoura.
É comum os produtores e comerciantes alegarem que tais medidas aumentam os custos da produção.
Cabe perguntar: “Quanto gasta o governo federal em uma campanha de erradicação de pragas? Quantos produtores são prejudicados com a ocorrência de novas pragas (p. ex. bicudo do algodoeiro, sigatoka negra, vespa da madeira, ferrugem da soja...)?Quem paga a conta?”
A educação fitossanitária, no meu entender, significa “consciência fitossanitária” e contribui para a prevenção da ocorrência de pragas nas lavouras, evitando gastos futuros com campanhas de erradicação.
segunda-feira, julho 12, 2004
MACHADO DE ASSIS NO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
MACHADO DE ASSIS NO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA
Paccelli M. Zahler
INTRODUÇÃO
Até 1861, o Brasil possuía seis ministérios. Daí em diante, enquanto durou a monarquia,os ministérios passaram a ser sete e o mais importante deles era o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como era chamado na época.
Ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas estavam subordinadas as Escolas Práticas de Agricultura, os engenhos centrais de produção de açúcar, o serviço de combate às endemias agrícolas, a distribuição de plantas e sementes, o regime das minas, o Museu Nacional, o Serviço de Iluminação Pública da Corte, o Jardim da Praça da Aclamação, o Jardim do Passeio Público, o Jardim Botânico, os trabalhos de publicação da FLORA BRASILIENSIS, os padrões do sistema métrico decimal, a representação do Brasil em exposições internacionais, os Institutos de Agricultura, colonias agrícolas e agroíndustriais, o serviço de caça e pesca, o registro das sociedades anônimas, o serviço de extinção de incêndios, a fiscalização da empresa concessionária do serviço de esgotos da Corte (The Rio de Janeiro City Improvements), as obras públicas da capital do Império, a siderurgia, as estradas de rodagem, o serviço de catequese dos índios, o controle das terras da nação, os bondes, a navegação, os serviços de abastecimento de água e as obras gerais das Províncias (estradas de ferro, açudagem, dragagem, cabos submarinos, canais, correios e telégrafos, controle da situação dos escravos). Posteriormente, tais atividades foram distribuídas por vários outros ministérios, como o de Viação e Obras Públicas, Agricultura, Trabalho, Indústria e Comércio, Educação e Cultura, Interior, Justiça e Prefeitura do Distrito Federal; e, com o passar do tempo, por mais outros ministérios à medida que os governos foram mudando.
Pois, foi a esse importante ministério que Machado de Assis dedicou 35 dos seus 41 anos como servidor público, os quais abrangeram o Império (1867 a 1889) e a República (1889 a 1908).
MACHADO DE ASSIS NO SERVIÇO PÚBLICO
Joaquim Maria Machado de Assis, uma das maiores expressões da literatura brasileira, legou-nos uma obra rica em contos, poesia, romances e crônicas até hoje estudadas e traduzidas para outros idiomas. Uma pergunta,porém, vem à mente ao se pensar se teria vivido Machado de Assis unicamente da literatura em um país onde a ela nunca foi dada tanta importância. É óbvio que não, principalmente para quem nasceu pobre, mulato, gago, feio e epiléptico.
Basta lembrar as palavras de MATOS (1939), "no Brasil, o artista não tem função econômica no meio social e literatura não é trabalho conversível em dinheiro". Hoje ainda é assim e os escritores sabem muito bem disso.
Até os 33 anos, Machado de Assis não encontrou estabilidade funcional e financeira. Durante todo esse tempo teve várias ocupações, todas ligadas ao jornalismo e às letras.
Com 16 anos de idade, começou a trabalhar na livraria de Francisco de Paula Brito, também fundador do jornal A MARMOTA, em cujas colunas apareciam versos escritos pelos poetas da época e no qual, em 21/06/1855, Machado de Assis publicou seus primeiros versos.
Em 1856, entrou como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, tendo como diretor o romancista Manoel Antonio de Almeida, autor de "Memórias de um Sargento de Milícias". Por ser muito jovem e inexperiente, com freqüência sofria repreensões do chefe porque se descuidava do serviço para "ler pelos cantos".
Dois anos depois, era tipógrafo da Imprensa Nacional, revisor de provas da livraria de Paula Brito e do jornal CORREIO MERCANTIL.
Aos 21 anos, entrou para a redação do DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, de propriedade de Quintino Bocaiúva, afastando-se em 1867, quando foi nomeado Diretor de Publicação do DIÁRIO OFICIAL.
Em 1868, aos 29 anos, era reconhecido como jornalista, poeta e escritor teatral e três anos depois, com a criação do Conservatório Dramático, sob a presidência de José de Alencar, Machado de Assis foi nomeado um de seus membros, porém, em cargo honorífico.
Em abril de 1872, foi designado amanuense (escrevente) da Comissão do Dicionário Tecnológico da Marinha, com gratificação de 50 mil réis mensais. No ano seguinte, mais precisamente em 31 de dezembro, com a reforma da Secretaria da Agricultura, foi nomeado Primeiro Oficial, com vencimentos de 4 milhões de réis anuais, tendo deixado o lugar que ocupava no DIÁRIO OFICIAL, em 06/01/1874, para não acumular cargos.
Por Decreto da Princesa Isabel, de 07/12/1876, foi promovido a Chefe de Seção, com vencimentos de 5 milhões e 400 mil réis anuais. Para se ter uma idéia , os desembargadores do Império recebiam 6 milhões de réis anuais.
Em 1878, deixou todas as suas colaborações na imprensa pois fazia parte da Comissão de Reforma da Legislação das Terras, cujos trabalhos terminaram com a publicação de um volume intitulado "Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura", inteiramente redigido por ele em 1886.
Não agüentando o excesso de trabalho, adoeceu. O então Ministro Rodrigo Augusto da Silva permitiu que se tratasse sem licença. Como não apresentou melhoras, foi obrigado a pedir licença de três meses para tratamento de saúde. Foi então em companhia da esposa, D. Carolina Augusta Xavier de Novais, convalescer em Nova Friburgo. Passou a apresentar problemas de visão, prejudicando o estudo e o trabalho.
Dois anos depois, foi convidado pelo Ministro da Agricultura, Buarque de Macedo, para exercer o cargo de Oficial de Gabinete.
Pouco tempo depois, o Ministro Buarque de Macedo faleceu em Minas Gerais, sendo substituído pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Pedro Luiz, que acumulou as duas pastas.
O Ministro Pedro Luiz era amigo de Machado desde a juventude e companheiro de jornalismo e, não só conservou-lhe as funções de gabinete, como a amizade. Era comum trabalharem em casa e jantarem juntos.
Em janeiro de 1882, com licença médica de três meses, foi para Nova Friburgo para "restaurar as forças perdidas no trabalho extraordinário que realizara entre 1880 e 1881", segundo Joaquim Nabuco. O mesmo aconteceu em 1887.
Um ano antes, o Imperador o faz Vogal do Conservatório Dramático, do qual fora membro desde a fundação em 1871. Em 1888, foi agraciado pela Princesa Isabel com o oficialato da Ordem da Rosa.
Aos 50 anos de idade, em março de 1889, atingiu o último degrau de sua carreira de funcionário público quando foi nomeado Diretor da Diretoria Geral de Comércio com um soldo anual de 8 contos de réis.
Em 1893, com a reforma que transformou a antiga Secretaria da Agricultura em Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, passou a Diretor Geral da Viação.
A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1896 e Machado de Assis foi aclamado seu primeiro Presidente.
As Diretorias Gerais de Viação e Obras Públicas foram reunidas em uma só em novembro de 1897 e o governo, considerando que o lugar deveria ser ocupado por um técnico, resolveu colocar em disponibilidade o Diretor Geral Machado de Assis, com os vencimentos que lhe competiam e que eram, desde 1891, de 9 contos anuais, assim tendo se conservado até a sua morte.
O Decreto saiu no dia do Ano Novo de 1898, firmado por Prudente de Morais e pelo Ministro de Viação, Sebastião de Lacerda. Caetano César era o nome indicado para substituir Machado de Assis.
Os companheiros de trabalho atestavam não só o seu rigor no cumprimento do dever como sua capacidade administrativa. Um Diretor Geral, podendo dispor de técnicos com quem se aconselhar, precisaria sobretudo ser um administrador.
A explicação mais aceita para sua saída foi sua incompatibilidade com o Ministro, devido ao excesso de zelo de sua parte, pois era muito aferrado às leis, intransigente em sua execução, tornando-se um funcionário incômodo.
A medida feriu seus sentimentos pois desejava continuar trabalhando. Entretanto, não chegou a ficar inativo um ano. Em 16 de novembro de 1898, Severino Vieira, que substituíra Sebastião de Lacerda na pasta da Viação, o nomeou Secretário, vindo a servir com o Ministro Interino Epitácio Pessoa e com Alfredo Maia.
Na opinião de Epitácio Pessoa, "um grande escritor e um péssimo Secretário".
Nesse período, talvez por desgosto, parou de escrever semanalmente na GAZETA DE NOTÍCIAS, aparecendo algumas vezes nas suas colunas, em 1900, substituindo Olavo Bilac, ou publicando raramente algum conto ou notícia literária.
Suas últimas páginas na REVISTA BRASILEIRA, datam de 1898. Depois disso, limitou-se a escrever um conto anual no ALMANAQUE BRASILEIRO JAMIER. Talvez o abalo sofrido por ter sido posto em disponibilidade do Serviço Público tivesse diminuído suas forças, ou as funções de Secretário e as de Presidente da Academia Brasileira de Letras, ocupassem todo o tempo disponível.
Em 1902, sob a presidência de Rodrigues Alves, sendo Ministro da Viação Lauro Muller, Machado de Assis foi nomeado novamente Diretor Geral de Contabilidade do Ministério da Viação, em ato datado de 18 de novembro, cargo que ocupou até morrer.
Já não era mais o mesmo. Sentia que envelhecia e que chegara o momento de ir se retirando. "Precisamos deixar lugar aos moços", não cansava de repetir, perguntando se já não estaria se tornando fastidioso.
Além das funções de Diretor Geral de Contabilidade, foi nomeado para a Comissão Fiscal e Administrativa das Obras do Cais do Porto.
Nos últimos dias de setembro de 1908, havia dois meses que não comparecia ao Ministério devido a problemas de saúde. Sofria de câncer na língua, não podendo alimentar-se direito.Em 21 de junho do mesmo ano, completara 69 anos.
Às 3h45min, da madrugada de 29/09/1908, na casa onde passara quase um terço de sua vida, expirou.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando ingressou no Ministério da Agricultura, Machado de Assis já era escritor e jornalista de prestígio. Durante seus 35 anos de bons serviços, testemunhos da época o consideram um exemplo de zelo, assiduidade e competência.
Apesar de não haver deixado o jornalismo, nunca sacrificou a função pública, apesar de sua saúde frágil que o obrigava a entrar de licença médica por longos períodos.
Agradecimentos
O autor deseja agradecer ao CENAGRI/MA, nas pessoas das bibliotecárias Lilian, Narda e Mônica, que não mediram esforços no levantamento bibliográfico básico para a elaboração do presente trabalho.
Bibliografia
IMPRENSA NACIONAL. Machado de Assis, Servidor Público. Brasília, 1995.
62 p.
MAGALHÃES JUNIOR, R. Machado de Assis, funcionário público (no
Império e na República). Ministério da Viação e Obras, Serviço de
Documentação, Rio de Janeiro, 1958. 130 p.
MATOS, M. Machado de Assis: o homem e a obra. Companhia Editora
Nacional, São Paulo, 1939. 454 p.
MIGUEL-PEREIRA, L. Machado de Assis (estudo crítico e biográfico).
Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1939. 342 p.
Paccelli M. Zahler
INTRODUÇÃO
Até 1861, o Brasil possuía seis ministérios. Daí em diante, enquanto durou a monarquia,os ministérios passaram a ser sete e o mais importante deles era o Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, como era chamado na época.
Ao Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas estavam subordinadas as Escolas Práticas de Agricultura, os engenhos centrais de produção de açúcar, o serviço de combate às endemias agrícolas, a distribuição de plantas e sementes, o regime das minas, o Museu Nacional, o Serviço de Iluminação Pública da Corte, o Jardim da Praça da Aclamação, o Jardim do Passeio Público, o Jardim Botânico, os trabalhos de publicação da FLORA BRASILIENSIS, os padrões do sistema métrico decimal, a representação do Brasil em exposições internacionais, os Institutos de Agricultura, colonias agrícolas e agroíndustriais, o serviço de caça e pesca, o registro das sociedades anônimas, o serviço de extinção de incêndios, a fiscalização da empresa concessionária do serviço de esgotos da Corte (The Rio de Janeiro City Improvements), as obras públicas da capital do Império, a siderurgia, as estradas de rodagem, o serviço de catequese dos índios, o controle das terras da nação, os bondes, a navegação, os serviços de abastecimento de água e as obras gerais das Províncias (estradas de ferro, açudagem, dragagem, cabos submarinos, canais, correios e telégrafos, controle da situação dos escravos). Posteriormente, tais atividades foram distribuídas por vários outros ministérios, como o de Viação e Obras Públicas, Agricultura, Trabalho, Indústria e Comércio, Educação e Cultura, Interior, Justiça e Prefeitura do Distrito Federal; e, com o passar do tempo, por mais outros ministérios à medida que os governos foram mudando.
Pois, foi a esse importante ministério que Machado de Assis dedicou 35 dos seus 41 anos como servidor público, os quais abrangeram o Império (1867 a 1889) e a República (1889 a 1908).
MACHADO DE ASSIS NO SERVIÇO PÚBLICO
Joaquim Maria Machado de Assis, uma das maiores expressões da literatura brasileira, legou-nos uma obra rica em contos, poesia, romances e crônicas até hoje estudadas e traduzidas para outros idiomas. Uma pergunta,porém, vem à mente ao se pensar se teria vivido Machado de Assis unicamente da literatura em um país onde a ela nunca foi dada tanta importância. É óbvio que não, principalmente para quem nasceu pobre, mulato, gago, feio e epiléptico.
Basta lembrar as palavras de MATOS (1939), "no Brasil, o artista não tem função econômica no meio social e literatura não é trabalho conversível em dinheiro". Hoje ainda é assim e os escritores sabem muito bem disso.
Até os 33 anos, Machado de Assis não encontrou estabilidade funcional e financeira. Durante todo esse tempo teve várias ocupações, todas ligadas ao jornalismo e às letras.
Com 16 anos de idade, começou a trabalhar na livraria de Francisco de Paula Brito, também fundador do jornal A MARMOTA, em cujas colunas apareciam versos escritos pelos poetas da época e no qual, em 21/06/1855, Machado de Assis publicou seus primeiros versos.
Em 1856, entrou como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, tendo como diretor o romancista Manoel Antonio de Almeida, autor de "Memórias de um Sargento de Milícias". Por ser muito jovem e inexperiente, com freqüência sofria repreensões do chefe porque se descuidava do serviço para "ler pelos cantos".
Dois anos depois, era tipógrafo da Imprensa Nacional, revisor de provas da livraria de Paula Brito e do jornal CORREIO MERCANTIL.
Aos 21 anos, entrou para a redação do DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, de propriedade de Quintino Bocaiúva, afastando-se em 1867, quando foi nomeado Diretor de Publicação do DIÁRIO OFICIAL.
Em 1868, aos 29 anos, era reconhecido como jornalista, poeta e escritor teatral e três anos depois, com a criação do Conservatório Dramático, sob a presidência de José de Alencar, Machado de Assis foi nomeado um de seus membros, porém, em cargo honorífico.
Em abril de 1872, foi designado amanuense (escrevente) da Comissão do Dicionário Tecnológico da Marinha, com gratificação de 50 mil réis mensais. No ano seguinte, mais precisamente em 31 de dezembro, com a reforma da Secretaria da Agricultura, foi nomeado Primeiro Oficial, com vencimentos de 4 milhões de réis anuais, tendo deixado o lugar que ocupava no DIÁRIO OFICIAL, em 06/01/1874, para não acumular cargos.
Por Decreto da Princesa Isabel, de 07/12/1876, foi promovido a Chefe de Seção, com vencimentos de 5 milhões e 400 mil réis anuais. Para se ter uma idéia , os desembargadores do Império recebiam 6 milhões de réis anuais.
Em 1878, deixou todas as suas colaborações na imprensa pois fazia parte da Comissão de Reforma da Legislação das Terras, cujos trabalhos terminaram com a publicação de um volume intitulado "Terras, compilação para estudo da Secretaria da Agricultura", inteiramente redigido por ele em 1886.
Não agüentando o excesso de trabalho, adoeceu. O então Ministro Rodrigo Augusto da Silva permitiu que se tratasse sem licença. Como não apresentou melhoras, foi obrigado a pedir licença de três meses para tratamento de saúde. Foi então em companhia da esposa, D. Carolina Augusta Xavier de Novais, convalescer em Nova Friburgo. Passou a apresentar problemas de visão, prejudicando o estudo e o trabalho.
Dois anos depois, foi convidado pelo Ministro da Agricultura, Buarque de Macedo, para exercer o cargo de Oficial de Gabinete.
Pouco tempo depois, o Ministro Buarque de Macedo faleceu em Minas Gerais, sendo substituído pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros, Pedro Luiz, que acumulou as duas pastas.
O Ministro Pedro Luiz era amigo de Machado desde a juventude e companheiro de jornalismo e, não só conservou-lhe as funções de gabinete, como a amizade. Era comum trabalharem em casa e jantarem juntos.
Em janeiro de 1882, com licença médica de três meses, foi para Nova Friburgo para "restaurar as forças perdidas no trabalho extraordinário que realizara entre 1880 e 1881", segundo Joaquim Nabuco. O mesmo aconteceu em 1887.
Um ano antes, o Imperador o faz Vogal do Conservatório Dramático, do qual fora membro desde a fundação em 1871. Em 1888, foi agraciado pela Princesa Isabel com o oficialato da Ordem da Rosa.
Aos 50 anos de idade, em março de 1889, atingiu o último degrau de sua carreira de funcionário público quando foi nomeado Diretor da Diretoria Geral de Comércio com um soldo anual de 8 contos de réis.
Em 1893, com a reforma que transformou a antiga Secretaria da Agricultura em Secretaria da Indústria, Viação e Obras Públicas, passou a Diretor Geral da Viação.
A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1896 e Machado de Assis foi aclamado seu primeiro Presidente.
As Diretorias Gerais de Viação e Obras Públicas foram reunidas em uma só em novembro de 1897 e o governo, considerando que o lugar deveria ser ocupado por um técnico, resolveu colocar em disponibilidade o Diretor Geral Machado de Assis, com os vencimentos que lhe competiam e que eram, desde 1891, de 9 contos anuais, assim tendo se conservado até a sua morte.
O Decreto saiu no dia do Ano Novo de 1898, firmado por Prudente de Morais e pelo Ministro de Viação, Sebastião de Lacerda. Caetano César era o nome indicado para substituir Machado de Assis.
Os companheiros de trabalho atestavam não só o seu rigor no cumprimento do dever como sua capacidade administrativa. Um Diretor Geral, podendo dispor de técnicos com quem se aconselhar, precisaria sobretudo ser um administrador.
A explicação mais aceita para sua saída foi sua incompatibilidade com o Ministro, devido ao excesso de zelo de sua parte, pois era muito aferrado às leis, intransigente em sua execução, tornando-se um funcionário incômodo.
A medida feriu seus sentimentos pois desejava continuar trabalhando. Entretanto, não chegou a ficar inativo um ano. Em 16 de novembro de 1898, Severino Vieira, que substituíra Sebastião de Lacerda na pasta da Viação, o nomeou Secretário, vindo a servir com o Ministro Interino Epitácio Pessoa e com Alfredo Maia.
Na opinião de Epitácio Pessoa, "um grande escritor e um péssimo Secretário".
Nesse período, talvez por desgosto, parou de escrever semanalmente na GAZETA DE NOTÍCIAS, aparecendo algumas vezes nas suas colunas, em 1900, substituindo Olavo Bilac, ou publicando raramente algum conto ou notícia literária.
Suas últimas páginas na REVISTA BRASILEIRA, datam de 1898. Depois disso, limitou-se a escrever um conto anual no ALMANAQUE BRASILEIRO JAMIER. Talvez o abalo sofrido por ter sido posto em disponibilidade do Serviço Público tivesse diminuído suas forças, ou as funções de Secretário e as de Presidente da Academia Brasileira de Letras, ocupassem todo o tempo disponível.
Em 1902, sob a presidência de Rodrigues Alves, sendo Ministro da Viação Lauro Muller, Machado de Assis foi nomeado novamente Diretor Geral de Contabilidade do Ministério da Viação, em ato datado de 18 de novembro, cargo que ocupou até morrer.
Já não era mais o mesmo. Sentia que envelhecia e que chegara o momento de ir se retirando. "Precisamos deixar lugar aos moços", não cansava de repetir, perguntando se já não estaria se tornando fastidioso.
Além das funções de Diretor Geral de Contabilidade, foi nomeado para a Comissão Fiscal e Administrativa das Obras do Cais do Porto.
Nos últimos dias de setembro de 1908, havia dois meses que não comparecia ao Ministério devido a problemas de saúde. Sofria de câncer na língua, não podendo alimentar-se direito.Em 21 de junho do mesmo ano, completara 69 anos.
Às 3h45min, da madrugada de 29/09/1908, na casa onde passara quase um terço de sua vida, expirou.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Quando ingressou no Ministério da Agricultura, Machado de Assis já era escritor e jornalista de prestígio. Durante seus 35 anos de bons serviços, testemunhos da época o consideram um exemplo de zelo, assiduidade e competência.
Apesar de não haver deixado o jornalismo, nunca sacrificou a função pública, apesar de sua saúde frágil que o obrigava a entrar de licença médica por longos períodos.
Agradecimentos
O autor deseja agradecer ao CENAGRI/MA, nas pessoas das bibliotecárias Lilian, Narda e Mônica, que não mediram esforços no levantamento bibliográfico básico para a elaboração do presente trabalho.
Bibliografia
IMPRENSA NACIONAL. Machado de Assis, Servidor Público. Brasília, 1995.
62 p.
MAGALHÃES JUNIOR, R. Machado de Assis, funcionário público (no
Império e na República). Ministério da Viação e Obras, Serviço de
Documentação, Rio de Janeiro, 1958. 130 p.
MATOS, M. Machado de Assis: o homem e a obra. Companhia Editora
Nacional, São Paulo, 1939. 454 p.
MIGUEL-PEREIRA, L. Machado de Assis (estudo crítico e biográfico).
Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1939. 342 p.
A LUA INFLUENCIA A AGRICULTURA?
A LUA INFLUENCIA A AGRICULTURA?
Paccelli M. Zahler
Os agricultores tradicionais costumam falar das épocas mais apropriadas para o plantio de determinadas culturas citando a Lua. Por exemplo, produtos agrícolas que crescem fora da terra como o tomate, o pimentão e o chuchu, teriam um melhor desenvolvimento se plantados na Lua Cheia; ao passo que aqueles que crescem embaixo da terra, como o amendoim, a cenoura e a batata se desenvolveriam melhor se plantados na Lua Nova.
A idéia básica é que a Lua Nova, estando entre a Terra e o Sol, ‘puxaria’ as raízes para baixo; por outro lado, a Lua Cheia, estando do lado oposto ao Sol, ‘puxaria’ a copa para cima, tal como acontece com as marés, reconhecidamente influenciadas pelas fases da Lua.
Nas fases de Lua Minguante e Crescente, haveria uma estagnação do desenvolvimento das plantas, já que corresponderia a um período de maré baixa.
Então, como que em uma retomada de métodos antigos de tratamento, freqüentemente se ouve propaganda de calendários lunares, os quais auxiliariam plantios, cortes de cabelo, etc.
Para entender o por quê dessa crença de que a Lua influencia os plantios, há que se reportar ao Antigo Egito, aproximadamente no ano 3.000 a.C. e conhecer um pouco da história do calendário.
Como se sabe, o Egito conseguiu suplantar a aridez do deserto do Saara graças ao rio Nilo, que banha 4 % de suas terras e, em cujas margens, sempre viveu a esmagadora maioria de seus habitantes.
Foi nas margens do rio Nilo que os antigos egípcios construíram templos, pirâmides, bibliotecas, estudaram o movimento das estrelas, criaram a escrita hieroglífica e desenvolveram a agricultura, produzindo trigo, milho, cevada, linho, hortaliças, bovinos, ovinos e caprinos. Para isso, mediam as cheias e as vazantes do Nilo, programando o cultivo da terra para evitar perdas na produção. Visando facilitar este trabalho, relacionaram as cheias do Nilo com as fases da Lua. Dessa relação, surgiu o primeiro calendário criado pelo homem - o calendário lunar - que dividia o ano em 12 meses de 29 ou 30 dias.
Verificou-se, mais tarde, que este calendário era impreciso, pois atrasava seis horas a cada ano e, com o passar do tempo, a entrada das estações não correspondia à época prevista.
Sob Júlio César, o Egito caiu nas mãos dos romanos, os quais se entusiasmaram com a exatidão do calendário egípcio em relação ao que adotavam. Assim, no ano 46 a.C., foi chamado a Roma o astrônomo Sorígenes acompanhado de uma equipe de peritos com a missão de reformar o calendário romano (de 304 dias), com base no calendário egípcio. Nasce o calendário juliano, estabelecendo o Ano Civil de 365 dias e um ano bissexto de 366 dias a cada 4 anos. Mesmo assim, o problema da imprecisão continuava.
Em 525, o historiador grego Dionísio propôs, tendo por base o calendário juliano, o calendário cristão, tomando o ano do nascimento de Cristo como o ano 1 do século I; e os acontecimento anteriores a esta data passaram a ser contados de trás para frente e acrescentados da sigla a.C. (antes de Cristo).
Em 1582, o Papa Gregório XIII determinou a eliminação de 3 anos bissextos a cada 400 anos no calendário juliano, pois havia uma diferença de 10 dias. Este ficou conhecido como calendário gregoriano.
Com o avanço da Ciência, no início do século XX verificou-se que o ano médio tinha 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos; e que Cristo havia nascido no ano 4 a.C.
O calendário lunar, como foi visto, é impreciso e até hoje nada foi comprovado cientificamente se a Lua realmente influenciaria a agricultura. Além do folclore, existem algumas observações esparsas sobre o comportamento dos insetos, por exemplo, as mariposas,onde se observa uma maior atividade na fase da Lua Nova ou Minguante do que nas fases Crescente ou Cheia mas, isso se deve à presença de maior luminosidade e não à ação direta da Lua uma vez que tais insetos não suportam a luz. Há também um estudo estatístico realizado nos hospitais, manicômios e delegacias de polícia norte-americanas, que deu origem à ‘hipótese das marés biológicas’, segundo a qual, assim como ocorre com as marés, na fase da Lua Cheia haveria um aumento da atividade sanguínea, o que promoveria um maior sangramento durante as cirurgias, maior incidência de crimes e maiores crises de loucura. Isto,porém, não está confirmado cientificamente.
Quem trabalha na agricultura sabe o quanto esta atividade é complexa e dependente dos fatores climáticos. Não basta, pois, ter uma boa semente, é necessário preparar bem a terra, fazer uma adubação equilibrada, controlar as pragas, evitar os excessos e os déficits hídricos, cuidar da colheita, do armazenamento e da embalagem dos produtos para evitar a deterioração. Além disso, a força gravitacional da Terra é bem maior que a da Lua. Então, como separar todos estes fatores e afirmar categoricamente que a agricultura depende também da fase da Lua?
A pergunta continua sem resposta, mas, considerando a imprecisão do calendário lunar e a gama de fatores dos quais depende a atividade agrícola, dificilmente se poderá provar qualquer influência da Lua sobre os cultivos.
Paccelli M. Zahler
Os agricultores tradicionais costumam falar das épocas mais apropriadas para o plantio de determinadas culturas citando a Lua. Por exemplo, produtos agrícolas que crescem fora da terra como o tomate, o pimentão e o chuchu, teriam um melhor desenvolvimento se plantados na Lua Cheia; ao passo que aqueles que crescem embaixo da terra, como o amendoim, a cenoura e a batata se desenvolveriam melhor se plantados na Lua Nova.
A idéia básica é que a Lua Nova, estando entre a Terra e o Sol, ‘puxaria’ as raízes para baixo; por outro lado, a Lua Cheia, estando do lado oposto ao Sol, ‘puxaria’ a copa para cima, tal como acontece com as marés, reconhecidamente influenciadas pelas fases da Lua.
Nas fases de Lua Minguante e Crescente, haveria uma estagnação do desenvolvimento das plantas, já que corresponderia a um período de maré baixa.
Então, como que em uma retomada de métodos antigos de tratamento, freqüentemente se ouve propaganda de calendários lunares, os quais auxiliariam plantios, cortes de cabelo, etc.
Para entender o por quê dessa crença de que a Lua influencia os plantios, há que se reportar ao Antigo Egito, aproximadamente no ano 3.000 a.C. e conhecer um pouco da história do calendário.
Como se sabe, o Egito conseguiu suplantar a aridez do deserto do Saara graças ao rio Nilo, que banha 4 % de suas terras e, em cujas margens, sempre viveu a esmagadora maioria de seus habitantes.
Foi nas margens do rio Nilo que os antigos egípcios construíram templos, pirâmides, bibliotecas, estudaram o movimento das estrelas, criaram a escrita hieroglífica e desenvolveram a agricultura, produzindo trigo, milho, cevada, linho, hortaliças, bovinos, ovinos e caprinos. Para isso, mediam as cheias e as vazantes do Nilo, programando o cultivo da terra para evitar perdas na produção. Visando facilitar este trabalho, relacionaram as cheias do Nilo com as fases da Lua. Dessa relação, surgiu o primeiro calendário criado pelo homem - o calendário lunar - que dividia o ano em 12 meses de 29 ou 30 dias.
Verificou-se, mais tarde, que este calendário era impreciso, pois atrasava seis horas a cada ano e, com o passar do tempo, a entrada das estações não correspondia à época prevista.
Sob Júlio César, o Egito caiu nas mãos dos romanos, os quais se entusiasmaram com a exatidão do calendário egípcio em relação ao que adotavam. Assim, no ano 46 a.C., foi chamado a Roma o astrônomo Sorígenes acompanhado de uma equipe de peritos com a missão de reformar o calendário romano (de 304 dias), com base no calendário egípcio. Nasce o calendário juliano, estabelecendo o Ano Civil de 365 dias e um ano bissexto de 366 dias a cada 4 anos. Mesmo assim, o problema da imprecisão continuava.
Em 525, o historiador grego Dionísio propôs, tendo por base o calendário juliano, o calendário cristão, tomando o ano do nascimento de Cristo como o ano 1 do século I; e os acontecimento anteriores a esta data passaram a ser contados de trás para frente e acrescentados da sigla a.C. (antes de Cristo).
Em 1582, o Papa Gregório XIII determinou a eliminação de 3 anos bissextos a cada 400 anos no calendário juliano, pois havia uma diferença de 10 dias. Este ficou conhecido como calendário gregoriano.
Com o avanço da Ciência, no início do século XX verificou-se que o ano médio tinha 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos; e que Cristo havia nascido no ano 4 a.C.
O calendário lunar, como foi visto, é impreciso e até hoje nada foi comprovado cientificamente se a Lua realmente influenciaria a agricultura. Além do folclore, existem algumas observações esparsas sobre o comportamento dos insetos, por exemplo, as mariposas,onde se observa uma maior atividade na fase da Lua Nova ou Minguante do que nas fases Crescente ou Cheia mas, isso se deve à presença de maior luminosidade e não à ação direta da Lua uma vez que tais insetos não suportam a luz. Há também um estudo estatístico realizado nos hospitais, manicômios e delegacias de polícia norte-americanas, que deu origem à ‘hipótese das marés biológicas’, segundo a qual, assim como ocorre com as marés, na fase da Lua Cheia haveria um aumento da atividade sanguínea, o que promoveria um maior sangramento durante as cirurgias, maior incidência de crimes e maiores crises de loucura. Isto,porém, não está confirmado cientificamente.
Quem trabalha na agricultura sabe o quanto esta atividade é complexa e dependente dos fatores climáticos. Não basta, pois, ter uma boa semente, é necessário preparar bem a terra, fazer uma adubação equilibrada, controlar as pragas, evitar os excessos e os déficits hídricos, cuidar da colheita, do armazenamento e da embalagem dos produtos para evitar a deterioração. Além disso, a força gravitacional da Terra é bem maior que a da Lua. Então, como separar todos estes fatores e afirmar categoricamente que a agricultura depende também da fase da Lua?
A pergunta continua sem resposta, mas, considerando a imprecisão do calendário lunar e a gama de fatores dos quais depende a atividade agrícola, dificilmente se poderá provar qualquer influência da Lua sobre os cultivos.
É POSSÍVEL PREVER A OCORRÊNCIA DE PRAGAS?
É POSSÍVEL PREVER A OCORRÊNCIA DE PRAGAS?
Paccelli M. Zahler
As pragas agrícolas, na maioria das vezes, surgem nas lavouras como resultado do desequilíbrio causado pela intervenção do homem no ambiente. Isto significa que, para implantar um pomar, uma horta ou um cultivo extensivo, há necessidade de se desmatar uma parte do ecossistema, no qual vegetais, animais e o meio abiótico estão em um equilíbrio relativo. Entretanto, em determinadas ocasiões e condicionadas por mudanças climáticas favoráveis, podem ocorrer explosões populacionais que, devido à competição por alimento e à ação dos predadores, acabam voltando ao equilíbrio anterior.
Em um agroecossistema, as coisas são diferentes. Normalmente, ele é constituído por uma só população vegetal (soja, milho, arroz ou feijão, por exemplo), a qual se constitui em uma excelente fonte de alimento para insetos e de substrato para o desenvolvimento de fungos, bactérias e vírus fitopatogênicos. Basta uma pequena mudança nas condições ambientais (em geral um aumento da temperatura ou da umidade) para que uma doença se instale ou para que uma população de insetos aumente consideravelmente e passe a se alimentar da cultura causando grandes prejuízos econômicos.
Sabe-se, com certeza, que alguns fungos e insetos têm a sua população aumentada ou favorecida por elementos climáticos. Por exemplo, a ferrugem do trigo (Puccinia graminis tritici), além de Ter estrutura especializada para a disseminação pelo vento, tendo sido transportada do México ao Canadá por correntes aéreas, leva apenas 5 dias para se desenvolver se a temperatura do ar permanecer próxima de 23,7 °C; os insetos, por sua vez, mantêm a sua temperatura corporal próxima à do ambiente, atingindo seu maior desenvolvimento e maior produção de descendentes quando a temperatura fica cerca de 25 °C.
Pode-se inferir então que, sabendo-se quais as condições mais favoráveis para o desenvolvimento de um patógeno ou de um inseto e as mesmas sendo verificadas em condições de campo, é possível prever, com relativa precisão, o seu aparecimento e tomar as medidas necessárias para o seu controle.
Ainda hoje, muitos agricultores aplicam produtos químicos de maneira "preventiva" e sem nenhuma orientação técnica. Graças a isso, os alimentos chegam à mesa dos consumidores com doses elevadas de resíduos tóxicos e, ao invés de nutrirem, acabam sendo agentes de muitas doenças, dentre elas, o câncer. Para se ter uma idéia, os cultivos de morango, tomate e batata podem ser pulverizados de 3 a 5 vezes por semana, sem o devido respeito ao "período de carência", ou seja, ao período de tempo entre a última pulverização e a colheita.
Sabendo-se qual o período mais favorável ao aparecimento de uma praga ou doença, a pulverização pode ser feita de forma racional, com o produto específico e na dosagem correta para solucionar o problema. Dessa maneira, é possível reduzir o número de aplicações e, conseqüentemente, a quantidade de resíduos tóxicos nos alimentos assim como os custos de produção.
Para se conhecer o período mais favorável ao aparecimento de uma praga, além dos estudos de sua biologia em condições de laboratório, é necessário contar com uma rede de observadores de campo, para que enviem semanalmente amostras para um laboratório central com vistas ao diagnóstico preciso do organismo que está atacando a cultura. Com o passar do tempo, tais informações podem ser processadas em um computador, possibilitando a determinação do período de maior probabilidade de ocorrência da doença ou praga de importância econômica.
Tal informação, conjugada com dados climáticos daquele período, permitirá que se chegue às condições climáticas favoráveis ao aparecimento do referido organismos, desde que este seja influenciado pela umidade relativa do ar, período de molhamento da folha, temperatura, etc. e assim chegar-se a um modelo matemático que estime, com a maior precisão possível, a probabilidade de ataque para que o produtor tenha condições de tomar algumas providências para a proteção da cultura, dentre elas, a pulverização com agrotóxico específico e seletivo, recomendado por um engenheiro agrônomo, mediante receituário.
Durante a elaboração do modelo matemático, todos os fatores controláveis que condicionam o aparecimento da praga ou da doença devem ser eliminados como, por exemplo, o manejo inadequado da água de irrigação, o uso de sementes ou mudas contaminadas, o baixo nível tecnológico dos produtores. Portanto, é recomendável trabalhar em uma região com microclima uniforme, com produtores de mesmo nível tecnológico e que aceitem passar por um treinamento para entender e saber usar as informações geradas pelo sistema de previsão de ocorrência de doenças e pragas dos vegetais.
Devido ao grande número de informações necessárias para se chegar a um bom modelo, a previsão só tem sido viável para um pequeno número de culturas de importância econômica, geralmente frutíferas, como por exemplo, macieira, pereira, marmeleiro, pessegueiro e nogueira pecan. Para as demais culturas, o que tem dado bons resultados é o monitoramento através do uso de armadilhas e da observação direta do número de insetos por folha ou por área da plantas; e da percentagem da área foliar atacada por algum patógeno (bactéria, fungo ou vírus).
Na Europa, além da experiência de décadas na coleta de dados no campo e da integração pesquisa-extensão rural-produtores, já é possível determinar com antecedência os períodos de maior probabilidade de ataque através de equipamentos que conjugam a coleta de dados microclimáticos com a informática e a biologia das pragas. Tais aparelhos, desenvolvidos pela indústria com a assessoria de instituições oficiais de pesquisa e a colaboração dos produtores rurais, são instalados no interior das lavouras, hortas ou pomares e registram os dados microclimáticos (umidade e temperatura da folha, a umidade relativa do ar, a temperatura do ar à sombra, a temperatura do solo, a precipitação pluviométrica), transmitindo-os a uma unidade central. Esta processa os dados em um programa de computador específico para cada doença ou praga. Assim, existem programas específicos para o controle do míldio da videira, da batata e do tomateiro, indicando o perigo de infecção e o número de horas desde o momento em que o perigo da infecção começou.
Também existem programas específicos para monitorar o desenvolvimento de ovos de insetos, calcular os graus-dia (importantes na previsão do crescimento e da fenologia das culturas e do ataque de pragas); a quantidade de produto químico após uma chuva, importante para que o agricultor saiba se há necessidade de fazer uma nova pulverização, e a determinação do risco de geada, permitindo uma maior eficiência e economia na proteção da lavoura.
O Brasil ainda não dispõe, até o momento, de uma tecnologia desse porte. Primeiro, porque a maior parte do seu território possui um clima tropical e os programas de computador existentes foram desenvolvidos para pragas e doenças que ocorrem em clima temperado e teriam que ser adaptados para as condições brasileiras. No entanto, poderiam ser perfeitamente utilizados nos Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), cujo clima é intermediário entre o subtropical e o temperado. Segundo, não dispõe de muitas pesquisas que determinem as condições microclimáticas favoráveis às pragas e doenças dos vegetais de importância econômica que aqui ocorrem, o que deveria ser implementado.
Uma experiência pioneira vem tendo lugar desde 1987, em Pelotas, RS, com a criação da Central de Alertas Agrometeorológicos do Sul (convênio EMBRAPA/UFPel/INMET), que coleta dados meteorológicos da Estação Agroclimatológica da Universidade Federal de Pelotas, os processa e emite Alertas Agrometeorológicos, através dos meios de comunicação disponíveis (rádio, jornal, televisão, telefone, fax) para os agropecuaristas, informando sobre os períodos favoráveis à ocorrência do míldio da batata, a quantidade de água necessária para a irrigação das culturas, o risco de resfriamento dos cordeiros, o risco de ocorrência de geadas e de podridão parda do pessegueiro, a necessidade de suplementação alimentar do rebanho e os períodos mais adequados para a pulverização das lavouras.
Quem sabe, em um futuro próximo, a prática da previsão de doenças e pragas dos vegetais esteja difundido por todo o país, ajudando o agropecuarista a produzir alimentos mais saudáveis e com maior economia.
(Publicado na Revista BRASÍLIA nº 67, abril/maio/1995, p. 32-33)
Paccelli M. Zahler
As pragas agrícolas, na maioria das vezes, surgem nas lavouras como resultado do desequilíbrio causado pela intervenção do homem no ambiente. Isto significa que, para implantar um pomar, uma horta ou um cultivo extensivo, há necessidade de se desmatar uma parte do ecossistema, no qual vegetais, animais e o meio abiótico estão em um equilíbrio relativo. Entretanto, em determinadas ocasiões e condicionadas por mudanças climáticas favoráveis, podem ocorrer explosões populacionais que, devido à competição por alimento e à ação dos predadores, acabam voltando ao equilíbrio anterior.
Em um agroecossistema, as coisas são diferentes. Normalmente, ele é constituído por uma só população vegetal (soja, milho, arroz ou feijão, por exemplo), a qual se constitui em uma excelente fonte de alimento para insetos e de substrato para o desenvolvimento de fungos, bactérias e vírus fitopatogênicos. Basta uma pequena mudança nas condições ambientais (em geral um aumento da temperatura ou da umidade) para que uma doença se instale ou para que uma população de insetos aumente consideravelmente e passe a se alimentar da cultura causando grandes prejuízos econômicos.
Sabe-se, com certeza, que alguns fungos e insetos têm a sua população aumentada ou favorecida por elementos climáticos. Por exemplo, a ferrugem do trigo (Puccinia graminis tritici), além de Ter estrutura especializada para a disseminação pelo vento, tendo sido transportada do México ao Canadá por correntes aéreas, leva apenas 5 dias para se desenvolver se a temperatura do ar permanecer próxima de 23,7 °C; os insetos, por sua vez, mantêm a sua temperatura corporal próxima à do ambiente, atingindo seu maior desenvolvimento e maior produção de descendentes quando a temperatura fica cerca de 25 °C.
Pode-se inferir então que, sabendo-se quais as condições mais favoráveis para o desenvolvimento de um patógeno ou de um inseto e as mesmas sendo verificadas em condições de campo, é possível prever, com relativa precisão, o seu aparecimento e tomar as medidas necessárias para o seu controle.
Ainda hoje, muitos agricultores aplicam produtos químicos de maneira "preventiva" e sem nenhuma orientação técnica. Graças a isso, os alimentos chegam à mesa dos consumidores com doses elevadas de resíduos tóxicos e, ao invés de nutrirem, acabam sendo agentes de muitas doenças, dentre elas, o câncer. Para se ter uma idéia, os cultivos de morango, tomate e batata podem ser pulverizados de 3 a 5 vezes por semana, sem o devido respeito ao "período de carência", ou seja, ao período de tempo entre a última pulverização e a colheita.
Sabendo-se qual o período mais favorável ao aparecimento de uma praga ou doença, a pulverização pode ser feita de forma racional, com o produto específico e na dosagem correta para solucionar o problema. Dessa maneira, é possível reduzir o número de aplicações e, conseqüentemente, a quantidade de resíduos tóxicos nos alimentos assim como os custos de produção.
Para se conhecer o período mais favorável ao aparecimento de uma praga, além dos estudos de sua biologia em condições de laboratório, é necessário contar com uma rede de observadores de campo, para que enviem semanalmente amostras para um laboratório central com vistas ao diagnóstico preciso do organismo que está atacando a cultura. Com o passar do tempo, tais informações podem ser processadas em um computador, possibilitando a determinação do período de maior probabilidade de ocorrência da doença ou praga de importância econômica.
Tal informação, conjugada com dados climáticos daquele período, permitirá que se chegue às condições climáticas favoráveis ao aparecimento do referido organismos, desde que este seja influenciado pela umidade relativa do ar, período de molhamento da folha, temperatura, etc. e assim chegar-se a um modelo matemático que estime, com a maior precisão possível, a probabilidade de ataque para que o produtor tenha condições de tomar algumas providências para a proteção da cultura, dentre elas, a pulverização com agrotóxico específico e seletivo, recomendado por um engenheiro agrônomo, mediante receituário.
Durante a elaboração do modelo matemático, todos os fatores controláveis que condicionam o aparecimento da praga ou da doença devem ser eliminados como, por exemplo, o manejo inadequado da água de irrigação, o uso de sementes ou mudas contaminadas, o baixo nível tecnológico dos produtores. Portanto, é recomendável trabalhar em uma região com microclima uniforme, com produtores de mesmo nível tecnológico e que aceitem passar por um treinamento para entender e saber usar as informações geradas pelo sistema de previsão de ocorrência de doenças e pragas dos vegetais.
Devido ao grande número de informações necessárias para se chegar a um bom modelo, a previsão só tem sido viável para um pequeno número de culturas de importância econômica, geralmente frutíferas, como por exemplo, macieira, pereira, marmeleiro, pessegueiro e nogueira pecan. Para as demais culturas, o que tem dado bons resultados é o monitoramento através do uso de armadilhas e da observação direta do número de insetos por folha ou por área da plantas; e da percentagem da área foliar atacada por algum patógeno (bactéria, fungo ou vírus).
Na Europa, além da experiência de décadas na coleta de dados no campo e da integração pesquisa-extensão rural-produtores, já é possível determinar com antecedência os períodos de maior probabilidade de ataque através de equipamentos que conjugam a coleta de dados microclimáticos com a informática e a biologia das pragas. Tais aparelhos, desenvolvidos pela indústria com a assessoria de instituições oficiais de pesquisa e a colaboração dos produtores rurais, são instalados no interior das lavouras, hortas ou pomares e registram os dados microclimáticos (umidade e temperatura da folha, a umidade relativa do ar, a temperatura do ar à sombra, a temperatura do solo, a precipitação pluviométrica), transmitindo-os a uma unidade central. Esta processa os dados em um programa de computador específico para cada doença ou praga. Assim, existem programas específicos para o controle do míldio da videira, da batata e do tomateiro, indicando o perigo de infecção e o número de horas desde o momento em que o perigo da infecção começou.
Também existem programas específicos para monitorar o desenvolvimento de ovos de insetos, calcular os graus-dia (importantes na previsão do crescimento e da fenologia das culturas e do ataque de pragas); a quantidade de produto químico após uma chuva, importante para que o agricultor saiba se há necessidade de fazer uma nova pulverização, e a determinação do risco de geada, permitindo uma maior eficiência e economia na proteção da lavoura.
O Brasil ainda não dispõe, até o momento, de uma tecnologia desse porte. Primeiro, porque a maior parte do seu território possui um clima tropical e os programas de computador existentes foram desenvolvidos para pragas e doenças que ocorrem em clima temperado e teriam que ser adaptados para as condições brasileiras. No entanto, poderiam ser perfeitamente utilizados nos Estados do Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), cujo clima é intermediário entre o subtropical e o temperado. Segundo, não dispõe de muitas pesquisas que determinem as condições microclimáticas favoráveis às pragas e doenças dos vegetais de importância econômica que aqui ocorrem, o que deveria ser implementado.
Uma experiência pioneira vem tendo lugar desde 1987, em Pelotas, RS, com a criação da Central de Alertas Agrometeorológicos do Sul (convênio EMBRAPA/UFPel/INMET), que coleta dados meteorológicos da Estação Agroclimatológica da Universidade Federal de Pelotas, os processa e emite Alertas Agrometeorológicos, através dos meios de comunicação disponíveis (rádio, jornal, televisão, telefone, fax) para os agropecuaristas, informando sobre os períodos favoráveis à ocorrência do míldio da batata, a quantidade de água necessária para a irrigação das culturas, o risco de resfriamento dos cordeiros, o risco de ocorrência de geadas e de podridão parda do pessegueiro, a necessidade de suplementação alimentar do rebanho e os períodos mais adequados para a pulverização das lavouras.
Quem sabe, em um futuro próximo, a prática da previsão de doenças e pragas dos vegetais esteja difundido por todo o país, ajudando o agropecuarista a produzir alimentos mais saudáveis e com maior economia.
(Publicado na Revista BRASÍLIA nº 67, abril/maio/1995, p. 32-33)
MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS
MANEJO INTEGRADO DE PRAGAS
Paccelli M. Zahler
Proibidos para uso na lavoura pela Portaria nº 06, de 29/04/80, da Secretaria de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura porque, não sendo eliminados pelo organismo, podem provocar alterações no comportamento, insanidade mental e teratogenia, alguns produtos à base de mercúrio, escapando da fiscalização, permanecem no mercado, sendo empregados na agricultura sem orientação técnica adequada. Assim, em setembro de 1989, os consumidores de batatas procedentes de Vargem Grande do Sul e São João da Boa Vista, SP, ficaram apreensivos com a notícia da interdição de algumas lavouras daqueles municípios por apresentarem índices de contaminação com mercúrio superiores aos permitidos pela FAO e Organização Mundial da Saúde.
Sabidamente, os produtos químicos utilizados na lavoura nada mais são do que instrumentos auxiliares no controle de pragas e doenças, devendo ser utilizados com parcimônia em um programa de “manejo integrado de pragas” ou MIP. Este programa consiste na utilização conjunta de vários métodos de controle de pragas e doenças, como o controle biológico, as variedades resistentes e os métodos culturais, dando-se preferência para técnicas simples, seguras e baratas, sem descartar aquelas tradicionais utilizadas pelos agricultores (métodos caseiros), integradas com o controle químico.
O controle químico dentro de um programa de “manejo integrado de pragas” é feito somente quando os outros métodos forem ineficientes para manter a população da praga ou da doença em um valor inferior ao “nível de dano econômico”, ou seja, ao momento em que o prejuízo econômico por ela causado estiver em equilíbrio com o custo do trabalho para controlá-la. Tal controle é feito antes que a densidade populacional da praga atinja este nível, estabelecendo-se um ”nível de controle”.
O “nível de controle” é aquele acima do qual a praga começará a causar dano econômico. É um índice obtido através do monitoramento da lavoura, ou seja, pelo acompanhamento da evolução da praga ou doença por um período de tempo prolongado, determinando-se os períodos de maior ocorrência, e comparando o dano causado com o custo da aplicação de agrotóxicos. Serve para indicar o momento correto da pulverização, quando outros métodos empregados e os inimigos naturais não estiverem conseguindo controlar a expansão da praga. Estudos neste sentido foram feitos pelo Centro Nacional de Pesquisa da Mandioca e Fruticultura/EMBRAPA, Cruz das Almas, BA, que elaborou um programa de “manejo integrado de pragas” para os citros; e pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja/EMBRAPA, Londrina, PR.
No Distrito Federal, a fruticultura tem se expandido nestes últimos anos, destacando-se a produção de manga e citros. No entanto, tais culturas têm sido prejudicadas comercialmente pelo ataque de moscas-das-frutas. Tais pragas perfuram o fruto, instalando ovos no seu interior, de onde se desenvolvem várias larvas que o deixam “bichado”. Buscando uma solução para o problema, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal-SERDV/DFA/DF implantou, no período de 1985-89, um programa de monitoramento de moscas-de-frutas em pomares do Núcleo Bandeirante, Nova Betânia, PAD-DF e Pipiripau, instalando frascos caça-moscas, tendo como isca sucos de frutas comerciais e proteína hidrolizada de milho a 1%. Semanalmente, as iscas eram trocadas e o conteúdo dos frascos levados ao laboratório expedito do SERDV/DFA/DF para identificação taxonômica das espécies e avaliação da flutuação populacional. sempre que era constatado um valor médio superior a 1,0 mosca/frasco por dia (nível de controle adotado), recomendava-se ao fruticultor realizar a pulverização do pomar com agrotóxicos específicos para cada caso na área de maior incidência, preservando-se os inimigos naturais da praga porventura presentes nas outras áreas do pomar. Tinha-se por objetivo: a)preservar os inimigos naturais; b) reduzir as intoxicações dos aplicadores pelo excesso de pulverizações preventivas; c) reduzir a contaminação dos alimentos por agrotóxicos; d) aplicação de agrotóxicos no momento certo e na dosagem recomendada, evitando aqueles de largo espectro, reduzindo os custos de produção; e) conhecer as principais espécies de moscas-das-frutas do DF e sua flutuação populacional no decorrer do ano para estabelecer uma estratégia mais ecológica para seu controle; e f) obter dados para a instalação de uma Estação de Avisos Fitossanitários.
A partir dessa experiência, sugere-se ao agricultor que, antes de pensar no controle químico, escolha uma cultura adequada às condições climáticas de sua região; analise o solo, corrigindo-o quanto à acidez e adubando-o corretamente, preferindo sempre que possível o adubo orgânico, complementando-o com adubos químicos pois, plantas com nutrição equilibrada tendem a apresentar maior resistência ao ataque de pragas; utilize o espaçamento recomendado pelo órgão de pesquisa da sua região e respeite o período de plantio; informe-se sobre os períodos de maior probabilidade de seca e, se for viável, adote um sistema de irrigação eficiente e econômico, para não ter problemas durante o ciclo de vida da planta; utilize armadilhas como frascos caça-moscas, armadilhas luminosas ou adesivas, plantas atrativas, além de outras que o órgão responsável pela extensão rural estará habilitado a informar.
Se as armadilhas não estiverem sendo eficientes para conter uma explosão populacional da praga, procurar o engenheiro agrônomo da sua região que, após avaliar a situação da lavoura poderá recomendar, através do Receituário Agronômico, um produto químico menos tóxico e mais específico para o problema, orientando-o quanto aos cuidados a serem tomados durante a aplicação, o equipamento necessário, a dosagem e a freqüência das aplicações necessárias para manter a praga em um nível inferior ao “nível de controle”.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília, de 28/03/90, p.6)
Paccelli M. Zahler
Proibidos para uso na lavoura pela Portaria nº 06, de 29/04/80, da Secretaria de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura porque, não sendo eliminados pelo organismo, podem provocar alterações no comportamento, insanidade mental e teratogenia, alguns produtos à base de mercúrio, escapando da fiscalização, permanecem no mercado, sendo empregados na agricultura sem orientação técnica adequada. Assim, em setembro de 1989, os consumidores de batatas procedentes de Vargem Grande do Sul e São João da Boa Vista, SP, ficaram apreensivos com a notícia da interdição de algumas lavouras daqueles municípios por apresentarem índices de contaminação com mercúrio superiores aos permitidos pela FAO e Organização Mundial da Saúde.
Sabidamente, os produtos químicos utilizados na lavoura nada mais são do que instrumentos auxiliares no controle de pragas e doenças, devendo ser utilizados com parcimônia em um programa de “manejo integrado de pragas” ou MIP. Este programa consiste na utilização conjunta de vários métodos de controle de pragas e doenças, como o controle biológico, as variedades resistentes e os métodos culturais, dando-se preferência para técnicas simples, seguras e baratas, sem descartar aquelas tradicionais utilizadas pelos agricultores (métodos caseiros), integradas com o controle químico.
O controle químico dentro de um programa de “manejo integrado de pragas” é feito somente quando os outros métodos forem ineficientes para manter a população da praga ou da doença em um valor inferior ao “nível de dano econômico”, ou seja, ao momento em que o prejuízo econômico por ela causado estiver em equilíbrio com o custo do trabalho para controlá-la. Tal controle é feito antes que a densidade populacional da praga atinja este nível, estabelecendo-se um ”nível de controle”.
O “nível de controle” é aquele acima do qual a praga começará a causar dano econômico. É um índice obtido através do monitoramento da lavoura, ou seja, pelo acompanhamento da evolução da praga ou doença por um período de tempo prolongado, determinando-se os períodos de maior ocorrência, e comparando o dano causado com o custo da aplicação de agrotóxicos. Serve para indicar o momento correto da pulverização, quando outros métodos empregados e os inimigos naturais não estiverem conseguindo controlar a expansão da praga. Estudos neste sentido foram feitos pelo Centro Nacional de Pesquisa da Mandioca e Fruticultura/EMBRAPA, Cruz das Almas, BA, que elaborou um programa de “manejo integrado de pragas” para os citros; e pelo Centro Nacional de Pesquisa da Soja/EMBRAPA, Londrina, PR.
No Distrito Federal, a fruticultura tem se expandido nestes últimos anos, destacando-se a produção de manga e citros. No entanto, tais culturas têm sido prejudicadas comercialmente pelo ataque de moscas-das-frutas. Tais pragas perfuram o fruto, instalando ovos no seu interior, de onde se desenvolvem várias larvas que o deixam “bichado”. Buscando uma solução para o problema, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal-SERDV/DFA/DF implantou, no período de 1985-89, um programa de monitoramento de moscas-de-frutas em pomares do Núcleo Bandeirante, Nova Betânia, PAD-DF e Pipiripau, instalando frascos caça-moscas, tendo como isca sucos de frutas comerciais e proteína hidrolizada de milho a 1%. Semanalmente, as iscas eram trocadas e o conteúdo dos frascos levados ao laboratório expedito do SERDV/DFA/DF para identificação taxonômica das espécies e avaliação da flutuação populacional. sempre que era constatado um valor médio superior a 1,0 mosca/frasco por dia (nível de controle adotado), recomendava-se ao fruticultor realizar a pulverização do pomar com agrotóxicos específicos para cada caso na área de maior incidência, preservando-se os inimigos naturais da praga porventura presentes nas outras áreas do pomar. Tinha-se por objetivo: a)preservar os inimigos naturais; b) reduzir as intoxicações dos aplicadores pelo excesso de pulverizações preventivas; c) reduzir a contaminação dos alimentos por agrotóxicos; d) aplicação de agrotóxicos no momento certo e na dosagem recomendada, evitando aqueles de largo espectro, reduzindo os custos de produção; e) conhecer as principais espécies de moscas-das-frutas do DF e sua flutuação populacional no decorrer do ano para estabelecer uma estratégia mais ecológica para seu controle; e f) obter dados para a instalação de uma Estação de Avisos Fitossanitários.
A partir dessa experiência, sugere-se ao agricultor que, antes de pensar no controle químico, escolha uma cultura adequada às condições climáticas de sua região; analise o solo, corrigindo-o quanto à acidez e adubando-o corretamente, preferindo sempre que possível o adubo orgânico, complementando-o com adubos químicos pois, plantas com nutrição equilibrada tendem a apresentar maior resistência ao ataque de pragas; utilize o espaçamento recomendado pelo órgão de pesquisa da sua região e respeite o período de plantio; informe-se sobre os períodos de maior probabilidade de seca e, se for viável, adote um sistema de irrigação eficiente e econômico, para não ter problemas durante o ciclo de vida da planta; utilize armadilhas como frascos caça-moscas, armadilhas luminosas ou adesivas, plantas atrativas, além de outras que o órgão responsável pela extensão rural estará habilitado a informar.
Se as armadilhas não estiverem sendo eficientes para conter uma explosão populacional da praga, procurar o engenheiro agrônomo da sua região que, após avaliar a situação da lavoura poderá recomendar, através do Receituário Agronômico, um produto químico menos tóxico e mais específico para o problema, orientando-o quanto aos cuidados a serem tomados durante a aplicação, o equipamento necessário, a dosagem e a freqüência das aplicações necessárias para manter a praga em um nível inferior ao “nível de controle”.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília, de 28/03/90, p.6)
OCORRÊNCIA DE LEPROSE DOS CITROS NO DISTRITO FEDERAL
OCORRÊNCIA DE LEPROSE DOS CITROS NO DISTRITO FEDERAL
Paccelli M. Zahler
Por ser uma doença que pode ocorrer o ano inteiro nas condições climáticas do Distrito Federal, a leprose tem sido um grande problema para os citricultores locais que, muitas vezes, a confundem com o cancro cítrico, ainda não constatado na região.
A leprose é uma doença, provavelmente virótica, transmitida por um ácaro do gênero Brevipalpus e que provoca lesões nas folhas, nos frutos e nos galhos das plantas cítricas.
Nas folhas e nos frutos, formam-se manchas rasas e deprimidas, pardo-escuras, circulares, de bordos bem delimitados, acompanhadas, quase sempre, por um halo amarelado. Tais lesões não são salientes, tampouco corticosas como as do cancro cítrico, com as quais podem ser confundidas. Nos galhos, entretanto, pode haver confusão pois as lesões são salientes, corticosas, da cor da palha ou pardacentas, podendo formar crostas.
Como medidas de controle, após a constatação da presença do ácaro, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da DFA/DF sugere:
1º) uma poda de limpeza, com queima dos ramos afetados, para evitar a reinfestação do ácaro e forçar uma nova brotação;
2º) uma ou duas pulverizações com acaricidas específicos durante a fase de desenvolvimento da planta. Neste caso, é recomendável consultar o engenheiro agrônomo da região, o qual, através do Receituário Agronômico, irá indicar o agrotóxico mais adequado para o controle do ácaro e orientar o produtor sobre como aplicar o produto;
3º) tratando-se de um pomar pequeno, pode ser utilizada a seguinte receita caseira:
- colocar água sobre cal viva em um recipiente, mexer e deixar a mistura descansar;
- pulverizar o líquido claro obtido sobre as plantas cítricas;
- observar o pomar com freqüência e, se ainda for constatada a presença do ácaro, repetir a pulverização.
Literatura Consultada
1. Flechtmann, C.H.W. – Ácaros de importância agrícola. Nobel, São Paulo (1979).
2. Gallli, F. (coord.) – Manual de fitopatologia. Vol. 2. Ceres, São Paulo (1980).
3. Nascimento, A. S. et alli – Manual de manejo integrado de pragas do pomar cítrico. EMBRAPA/CNPMG, Brasília, (1982).
4. Pinheiro, S., Aurvalle, A. e Guazelli, M.J. – Agropecuária sem veneno. L&PM, Porto Alegre (1985).
5. Rossetti, V. – Identificação do cancro cítrico. O Biológico, 47(5):145-153 (1981).
(Publicado no Informativo ACONTECENDO nº 3 / 4, julho/1991, p. 6, Ministério da Agricultura, Brasília, DF)
Paccelli M. Zahler
Por ser uma doença que pode ocorrer o ano inteiro nas condições climáticas do Distrito Federal, a leprose tem sido um grande problema para os citricultores locais que, muitas vezes, a confundem com o cancro cítrico, ainda não constatado na região.
A leprose é uma doença, provavelmente virótica, transmitida por um ácaro do gênero Brevipalpus e que provoca lesões nas folhas, nos frutos e nos galhos das plantas cítricas.
Nas folhas e nos frutos, formam-se manchas rasas e deprimidas, pardo-escuras, circulares, de bordos bem delimitados, acompanhadas, quase sempre, por um halo amarelado. Tais lesões não são salientes, tampouco corticosas como as do cancro cítrico, com as quais podem ser confundidas. Nos galhos, entretanto, pode haver confusão pois as lesões são salientes, corticosas, da cor da palha ou pardacentas, podendo formar crostas.
Como medidas de controle, após a constatação da presença do ácaro, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da DFA/DF sugere:
1º) uma poda de limpeza, com queima dos ramos afetados, para evitar a reinfestação do ácaro e forçar uma nova brotação;
2º) uma ou duas pulverizações com acaricidas específicos durante a fase de desenvolvimento da planta. Neste caso, é recomendável consultar o engenheiro agrônomo da região, o qual, através do Receituário Agronômico, irá indicar o agrotóxico mais adequado para o controle do ácaro e orientar o produtor sobre como aplicar o produto;
3º) tratando-se de um pomar pequeno, pode ser utilizada a seguinte receita caseira:
- colocar água sobre cal viva em um recipiente, mexer e deixar a mistura descansar;
- pulverizar o líquido claro obtido sobre as plantas cítricas;
- observar o pomar com freqüência e, se ainda for constatada a presença do ácaro, repetir a pulverização.
Literatura Consultada
1. Flechtmann, C.H.W. – Ácaros de importância agrícola. Nobel, São Paulo (1979).
2. Gallli, F. (coord.) – Manual de fitopatologia. Vol. 2. Ceres, São Paulo (1980).
3. Nascimento, A. S. et alli – Manual de manejo integrado de pragas do pomar cítrico. EMBRAPA/CNPMG, Brasília, (1982).
4. Pinheiro, S., Aurvalle, A. e Guazelli, M.J. – Agropecuária sem veneno. L&PM, Porto Alegre (1985).
5. Rossetti, V. – Identificação do cancro cítrico. O Biológico, 47(5):145-153 (1981).
(Publicado no Informativo ACONTECENDO nº 3 / 4, julho/1991, p. 6, Ministério da Agricultura, Brasília, DF)
ESTAÇÃO DE AVISOS FITOSSANITÁRIOS
ESTAÇÃO DE AVISOS FITOSSANITÁRIOS
Paccelli M. Zahler
Em 1878, o míldio da videira, doença originária dos Estados Unidos e causada pelo fungo Plasmopara viticola, instalou-se inadvertidamente nos pomares franceses. Naquela época, conheciam-se apenas produtos químicos de ação preventiva, ou seja, somente protegiam a cultura se fossem aplicados antes da penetração do fungo, caso contrário, de nada adiantava a sua aplicação. Os produtores de uva, por se tratar de uma doença nova, nada sabiam a respeito e, desesperados, passaram a pulverizar os parreirais, quase que semanalmente, com os produtos químicos conhecidos até então. Como conseqüência do uso indiscriminado, passaram a se tornar comuns as intoxicações dos produtores pela exposição aos agrotóxicos, assim como os gastos excessivos com a sua compra, o que encarecia a produção da uva, sem resultados satisfatórios.
Porém, já no final do século passado, dois fitopatologistas franceses, Louis Etienne Ravaz (1863-1937) e J. Capus, tiveram a idéia de pesquisar o ciclo biológico do fungo causador do míldio da videira, registrar a época do ano mais propícia e as condições climáticas mais favoráveis para o aparecimento da doença e, com base nestes dados, alertavam os produtores de uva para o momento mais adequado de pulverização dos pomares.
Visavam com isso racionalizar e reduzir as aplicações de agrotóxicos e, conseqüentemente, o número de intoxicações, reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade do produto e proteger o meio ambiente. Seus trabalhos, inicialmente, ficaram restritos à região de Bordeaux e Montpellier e, com o passar do tempo, abrangeram não apenas o míldio, mas também a podridão da videira e organismos prejudiciais.
O sucesso foi tão grande e os resultados tão satisfatórios, graças à participação dos produtores rurais franceses que aprovaram a idéia e passaram a cooperar com os técnicos da defesa sanitária vegetal, que o governo francês resolveu ampliar o trabalho. Hoje, a França possui uma rede de 16 Estações de Avisos Fitossanitários, cada uma trabalhando sobre uma área média de 35 mil km², estudando e emitindo avisos sobre as principais culturas daquele país¹.
A Estação de Avisos Fitossanitários tem uma função semelhante à de uma Estação Meteorológica. Enquanto esta fez observações de fatores climáticos como temperatura e umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica e velocidade do vento, emitindo avisos aos produtores rurais sobre a probabilidade de ocorrência de chuva, geada e granizo prejudiciais aos cultivos agrícolas, a Estação de Avisos Fitossanitários observa a ocorrência de pragas e doenças das principais culturas da região, cataloga, registra o período do ano em que ocorrem, estuda seu ciclo biológico, hospedeiros e inimigos naturais, realiza estudos comparativos entre a época de ocorrência dos inimigos das culturas com os dados climáticos para fazer uma previsão das condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento dos mesmos, avisando ao produtor, através dos meios de comunicação, sobre os riscos de ataque.
Seu objetivo não é obter uma proteção total do pomar ou da lavoura, mas, ajudar o produtor a obter uma colheita de valor econômico com o mínimo de tratamentos fitossanitários, porém, aplicados na época certa, com o produto e a dosagem recomendados, evitando despesas inúteis com agrotóxicos, contaminação de alimentos, intoxicação de produtores e consumidores, assim como o rompimento do equilíbrio ambiental pelo abuso de produtos químicos.
A isto se soma o trabalho com os produtores rurais, extensionistas e pesquisadores para, através de uma discussão dos principais problemas fitossanitários da região, integrá-los em um objetivo comum que é tirar o máximo proveito da cultura com um mínimo de intervenção no meio ambiente.
Entretanto, tais objetivos jamais poderão ser alcançados se não houver o interesse e a participação ativa dos produtores rurais da região onde a Estação de Avisos Fitossanitários estiver instalada, pois eles serão os principais beneficiados.
O contato produtor-Estação é fundamental para a troca de informações e experiência já que os resultados não surgem da noite para o dia, mas são conseqüência de levantamentos, observações e estudos acumulados no decorrer dos anos.
Atendendo a uma reivindicação da Associação dos Produtores de Maçã de Fraiburgo, Santa Catarina, que desejava melhorar a qualidade do produto através de um sistema eficiente de controle de doenças e pragas, a Secretaria de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura assinou, em 1981, um convênio com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento daquele Estado para, através da Delegacia Federal de Agricultura em Santa Catarina, implantar uma rede de Estações de Avisos Fitossanitários.
Em 1982, foram instaladas duas Estações, um em Fraiburgo e outra em São Joaquim (prevendo-se a instalação de uma outra em Lages), sob a orientação técnica do Serviço de Proteção dos Vegetais do Ministério da Agricultura da França².
Os trabalhos iniciais têm se concentrado na observação e controle da sarna da macieira, podridão amarga, ácaro vermelho europeu e especialmente mosca-das-frutas, principais problemas fitossanitários da região.Estes trabalhos tem contado com a colaboração da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária-EMPASC e da EMATER/SC.
No período de 1982-87, o número de pomares monitorados com frascos caça-moscas para o controle da mosca-das-frutas passou de 8 para 51, em Fraiburgo; e de 12 para 82, em São Joaquim, com excelentes resultados. Esta experiência pioneira fez com que trabalhos desta natureza fossem incluídos no Plano Nacional de Defesa Sanitária Vegetal-PNSDV, apresentado no IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas em novembro de 1986, em Belém, PA³.
No Distrito Federal, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura-SERDV/DFA/DF conta já com um laboratório instalado na Fazenda Sucupira do Ministério da Agricultura, Núcleo Bandeirante; e vem realizando, desde 1985, estudos preliminares sobre a ocorrência de moscas-das-frutas em pomares de citros e manga da região.
Desde julho do corrente ano, o SERDV/DFA/DF tem acompanhado, juntamente com a EMATER/DF, a ocorrência de doenças da batatinha, com vistas a colher subsídios para colocar em funcionamento a Estação de Avisos Fitossanitários do Distrito Federal. Entretanto, para atingir este objetivo de uma forma mais rápida e eficiente, necessita da colaboração e participação ativa dos produtores rurais do DF.
Referências bibliográficas
1. J. Besson – Palestra proferida no Curso sobre Estações de Avisos Fitossanitários. Santa Catarina, 3 a 8 de novembro de 1986.
2. L. P. de Oliveira e S.O. de Oliveira – Esquema de avisos fitossantiários em Santa Catarina. In: IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas (Anais), Belém, PA (1986).
3. L. F. Monteiro – Plano Nacional de Defesa Sanitária Vegetal (PNDSV). In: IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas (Anais), Belém, PA (1986).
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília n° 41, de 19/10/88)
Paccelli M. Zahler
Em 1878, o míldio da videira, doença originária dos Estados Unidos e causada pelo fungo Plasmopara viticola, instalou-se inadvertidamente nos pomares franceses. Naquela época, conheciam-se apenas produtos químicos de ação preventiva, ou seja, somente protegiam a cultura se fossem aplicados antes da penetração do fungo, caso contrário, de nada adiantava a sua aplicação. Os produtores de uva, por se tratar de uma doença nova, nada sabiam a respeito e, desesperados, passaram a pulverizar os parreirais, quase que semanalmente, com os produtos químicos conhecidos até então. Como conseqüência do uso indiscriminado, passaram a se tornar comuns as intoxicações dos produtores pela exposição aos agrotóxicos, assim como os gastos excessivos com a sua compra, o que encarecia a produção da uva, sem resultados satisfatórios.
Porém, já no final do século passado, dois fitopatologistas franceses, Louis Etienne Ravaz (1863-1937) e J. Capus, tiveram a idéia de pesquisar o ciclo biológico do fungo causador do míldio da videira, registrar a época do ano mais propícia e as condições climáticas mais favoráveis para o aparecimento da doença e, com base nestes dados, alertavam os produtores de uva para o momento mais adequado de pulverização dos pomares.
Visavam com isso racionalizar e reduzir as aplicações de agrotóxicos e, conseqüentemente, o número de intoxicações, reduzir o custo de produção, melhorar a qualidade do produto e proteger o meio ambiente. Seus trabalhos, inicialmente, ficaram restritos à região de Bordeaux e Montpellier e, com o passar do tempo, abrangeram não apenas o míldio, mas também a podridão da videira e organismos prejudiciais.
O sucesso foi tão grande e os resultados tão satisfatórios, graças à participação dos produtores rurais franceses que aprovaram a idéia e passaram a cooperar com os técnicos da defesa sanitária vegetal, que o governo francês resolveu ampliar o trabalho. Hoje, a França possui uma rede de 16 Estações de Avisos Fitossanitários, cada uma trabalhando sobre uma área média de 35 mil km², estudando e emitindo avisos sobre as principais culturas daquele país¹.
A Estação de Avisos Fitossanitários tem uma função semelhante à de uma Estação Meteorológica. Enquanto esta fez observações de fatores climáticos como temperatura e umidade relativa do ar, precipitação pluviométrica e velocidade do vento, emitindo avisos aos produtores rurais sobre a probabilidade de ocorrência de chuva, geada e granizo prejudiciais aos cultivos agrícolas, a Estação de Avisos Fitossanitários observa a ocorrência de pragas e doenças das principais culturas da região, cataloga, registra o período do ano em que ocorrem, estuda seu ciclo biológico, hospedeiros e inimigos naturais, realiza estudos comparativos entre a época de ocorrência dos inimigos das culturas com os dados climáticos para fazer uma previsão das condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento dos mesmos, avisando ao produtor, através dos meios de comunicação, sobre os riscos de ataque.
Seu objetivo não é obter uma proteção total do pomar ou da lavoura, mas, ajudar o produtor a obter uma colheita de valor econômico com o mínimo de tratamentos fitossanitários, porém, aplicados na época certa, com o produto e a dosagem recomendados, evitando despesas inúteis com agrotóxicos, contaminação de alimentos, intoxicação de produtores e consumidores, assim como o rompimento do equilíbrio ambiental pelo abuso de produtos químicos.
A isto se soma o trabalho com os produtores rurais, extensionistas e pesquisadores para, através de uma discussão dos principais problemas fitossanitários da região, integrá-los em um objetivo comum que é tirar o máximo proveito da cultura com um mínimo de intervenção no meio ambiente.
Entretanto, tais objetivos jamais poderão ser alcançados se não houver o interesse e a participação ativa dos produtores rurais da região onde a Estação de Avisos Fitossanitários estiver instalada, pois eles serão os principais beneficiados.
O contato produtor-Estação é fundamental para a troca de informações e experiência já que os resultados não surgem da noite para o dia, mas são conseqüência de levantamentos, observações e estudos acumulados no decorrer dos anos.
Atendendo a uma reivindicação da Associação dos Produtores de Maçã de Fraiburgo, Santa Catarina, que desejava melhorar a qualidade do produto através de um sistema eficiente de controle de doenças e pragas, a Secretaria de Defesa Sanitária Vegetal do Ministério da Agricultura assinou, em 1981, um convênio com a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento daquele Estado para, através da Delegacia Federal de Agricultura em Santa Catarina, implantar uma rede de Estações de Avisos Fitossanitários.
Em 1982, foram instaladas duas Estações, um em Fraiburgo e outra em São Joaquim (prevendo-se a instalação de uma outra em Lages), sob a orientação técnica do Serviço de Proteção dos Vegetais do Ministério da Agricultura da França².
Os trabalhos iniciais têm se concentrado na observação e controle da sarna da macieira, podridão amarga, ácaro vermelho europeu e especialmente mosca-das-frutas, principais problemas fitossanitários da região.Estes trabalhos tem contado com a colaboração da Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária-EMPASC e da EMATER/SC.
No período de 1982-87, o número de pomares monitorados com frascos caça-moscas para o controle da mosca-das-frutas passou de 8 para 51, em Fraiburgo; e de 12 para 82, em São Joaquim, com excelentes resultados. Esta experiência pioneira fez com que trabalhos desta natureza fossem incluídos no Plano Nacional de Defesa Sanitária Vegetal-PNSDV, apresentado no IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas em novembro de 1986, em Belém, PA³.
No Distrito Federal, o Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura-SERDV/DFA/DF conta já com um laboratório instalado na Fazenda Sucupira do Ministério da Agricultura, Núcleo Bandeirante; e vem realizando, desde 1985, estudos preliminares sobre a ocorrência de moscas-das-frutas em pomares de citros e manga da região.
Desde julho do corrente ano, o SERDV/DFA/DF tem acompanhado, juntamente com a EMATER/DF, a ocorrência de doenças da batatinha, com vistas a colher subsídios para colocar em funcionamento a Estação de Avisos Fitossanitários do Distrito Federal. Entretanto, para atingir este objetivo de uma forma mais rápida e eficiente, necessita da colaboração e participação ativa dos produtores rurais do DF.
Referências bibliográficas
1. J. Besson – Palestra proferida no Curso sobre Estações de Avisos Fitossanitários. Santa Catarina, 3 a 8 de novembro de 1986.
2. L. P. de Oliveira e S.O. de Oliveira – Esquema de avisos fitossantiários em Santa Catarina. In: IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas (Anais), Belém, PA (1986).
3. L. F. Monteiro – Plano Nacional de Defesa Sanitária Vegetal (PNDSV). In: IV Encontro Nacional de Fitossanitaristas (Anais), Belém, PA (1986).
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília n° 41, de 19/10/88)
O TRÂNSITO DE VEGETAIS E AS PRAGAS E DOENÇAS
O TRÂNSITO DE VEGETAIS E AS PRAGAS E DOENÇAS
Paccelli M. Zahler
Quando em visita a uma região diferente de onde residem, é comum as pessoas colherem frutas, mudas, sementes e outras partes do vegetal para multiplicá-las em sua propriedade, atraídas por sua capacidade produtiva, propriedades organolépticas ou sua beleza. Afinal de contas, quem não gostaria de sentir novamente o sabor daquela fruta que o amigo distante cultiva com tanto carinho? Entretanto, é difícil compreender que, com este gesto inocente, pode-se estar contribuindo para a disseminação de pragas e doenças da lavoura.
Por que isso ocorre? Bem, isso ocorre porque as pragas da lavoura costumam colocar seus ovos sobre o vegetal e até mesmo no solo; já as doenças causadas por fungos, bactérias e vírus, reproduzem-se através de esporos, principalmente.
Quando o vegetal ou suas partes são levados de uma região para outra, seja por pessoas comuns, comércio, importação ou exportação, juntamente com eles podem estar sendo levados ovos, esporos e solo contaminado, os quais podem encontrar condições favoráveis para desenvolvimento na região de introdução e causar sérios problemas à lavoura. Eis alguns exemplos: o cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri , originária da Ásia, foi constatada nos Estados Unidos, Nova Zelândia e África do Sul, de onde foi erradicada. Sua introdução no Brasil ocorreu em 1957, na região de Presidente Prudente, São Paulo, e até hoje vem causando problemas à citricultura no norte daquele Estado (1,2); a mosca do Mediterrâneo, Ceratitis capitata, é originária da região do Mediterrâneo, onde são cultivadas laranjas, maçãs e pêssegos, com o passar do tempo expandiu-se pelos países da África e da Ásia, próximos àquele mar, chegando ao Brasil em 1905, sendo atualmente um dos principais problemas dos pomares de citros e macieira, juntamente com moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (3). A ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, foi observada pela primeira vez em 1861, na África Oriental e hoje encontra-se difundida por praticamente todas as regiões cafeeiras do Brasil (4). O nematóide Tylenchulus semipenetrans foi constatado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1912, em raízes de mudas de laranjeira provenientes do Brasil, mais tarde foi verificado que se encontra disseminado pela maioria das regiões citrícolas do mundo.
Os pequenos exemplos acima ilustram as conseqüências nefastas do trânsito de vegetais infectados, dentro e fora do país, sobre os cultivos agrícolas. Conseqüências estas que geralmente obrigam o governo a gastar milhões de dólares (pagos pelo contribuinte) em campanhas de erradicação de pragas e doenças de plantas (como, por exemplo, a Campanha de Combate ao Bicudo do Algodoeiro e a Campanha Nacional de Erradicação do Cancro Cítrico) e obrigam o agricultor a empregar agrotóxicos na lavoura, aumentando o custo da produção, contaminando a si mesmo, o meio ambiente, os alimentos e os consumidores, além de contribuir para a extinção dos inimigos naturais das pragas.
O problema da introdução de pragas e doenças através de plantas e solo contaminados foi amenizado (infelizmente, não foi impedido) a partir da criação do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal pelo Decreto nº 24.114, de 12/04/34, publicado no D.O. U. de 04/05/34, e regulamentado pelo Decreto n° 67.112/70. A partir daí, o trânsito de vegetais pelo território nacional (comercialização, importação e exportação) passou a ser fiscalizado em portos, aeroportos, postos de fronteira, correios, estradas, lavouras e estabelecimentos comerciais por técnicos do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura do Ministério da Agricultura-SERDV/DFA/MA em todos os Estados brasileiros.
Todo o material vegetal vindo do exterior só poderá entrar no país se estiver acompanhado do Certificado Fitossanitário emitido por técnicos do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do país de origem. Se o material estiver contaminado, ou não possuir Certificado Fitossanitário, é feita a sua devolução ao país de origem ou sua apreensão e destruição.
Dependendo do tipo de material e da região de origem, poderá ser prescrita uma quarentena em uma estação quarentenária credenciada pelo Ministério da Agricultura, onde serão realizados testes bacteriológicos, micológicos, virológicos, nematológicos e entomológicos para atestar a sanidade do material. Se não houver contaminação, ele é liberado para o plantio, caso contrário, incinerado mediante a emissão do Termo de Apreensão e Destruição.
Para o material vegetal destinado à exportação é fornecido um Certificado Fitossanitário, para o comércio interestadual é fornecida uma Permissão de Trânsito válida em todo o território nacional. Ambos são emitidos somente após o exame das partidas, sem nenhum ônus para o produtor rural, a não ser que seja necessário um tratamento com produtos químicos, cujas despesas cabem por conta do interessado.
Tais medidas, infelizmente, não impedem a entrada do material vegetal contaminado no país, contribuindo para a disseminação de pragas, pois muitos deles escapam à fiscalização, principalmente se forem carregados em pequenas quantidades em sacolas, carros e camionetes particulares.
É importante e necessária a ajuda, não só dos produtores rurais, mas das pessoas de uma maneira geral, na prevenção da disseminação de pragas e doenças dos cultivos agrícolas. Para atingir esse objetivo, são suficientes medidas simples como:
a) somente adquirir plantas em estabelecimentos comerciais idôneos, registrados no Ministério da Agricultura e que certifiquem a sanidade das mesmas;
b) evitar o transporte de mudas, frutos, sementes ou quaisquer outras partes do vegetal de uma região para outra;
c) caso desejar enviar o material de uma região para outra, procurar orientação com os técnicos da EMATER, da Secretaria Estadual de Agricultura ou comparecer ao Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura da região;
d) no caso de importação de material vegetal, seja para plantio, seja para pesquisa, solicitar à instituição de pesquisa ou à empresa exportadora que somente o envie acompanhado de Certificado Fitossanitário emitido pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do país de origem e atendendo aos requisitos fitossanitários do Brasil.
Dessa maneira, todos estarão contribuindo para prevenir e evitar a introdução de novas pragas e doenças na lavoura e os gastos excessivos de sua erradicação.
Referências bibliográficas
1. Cristóvão, A . Focos de cancro cítrico ainda aparecem em São Paulo. In: Folha de São Paulo, 05/04/88.
2. Galli, F. et al. Manual de fitopatologia. Vol. II, Ceres, São Paulo (1980).
3. Gallo, D. et al. Manual de entomologia agrícola. Ceres, São Paulo (1978).
4. IBC/GERCA. Cultura do café no Brasil: manual de recomendações. Ministério da Agricultura Indústria e Comércio, Rio de Janeiro (1981).
5. Gonzaga, L. & Lordello, E. Nematóides das plantas cultivadas. Nobel, São Paulo (1981).
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília de 25/05/88)
Paccelli M. Zahler
Quando em visita a uma região diferente de onde residem, é comum as pessoas colherem frutas, mudas, sementes e outras partes do vegetal para multiplicá-las em sua propriedade, atraídas por sua capacidade produtiva, propriedades organolépticas ou sua beleza. Afinal de contas, quem não gostaria de sentir novamente o sabor daquela fruta que o amigo distante cultiva com tanto carinho? Entretanto, é difícil compreender que, com este gesto inocente, pode-se estar contribuindo para a disseminação de pragas e doenças da lavoura.
Por que isso ocorre? Bem, isso ocorre porque as pragas da lavoura costumam colocar seus ovos sobre o vegetal e até mesmo no solo; já as doenças causadas por fungos, bactérias e vírus, reproduzem-se através de esporos, principalmente.
Quando o vegetal ou suas partes são levados de uma região para outra, seja por pessoas comuns, comércio, importação ou exportação, juntamente com eles podem estar sendo levados ovos, esporos e solo contaminado, os quais podem encontrar condições favoráveis para desenvolvimento na região de introdução e causar sérios problemas à lavoura. Eis alguns exemplos: o cancro cítrico, causado pela bactéria Xanthomonas citri , originária da Ásia, foi constatada nos Estados Unidos, Nova Zelândia e África do Sul, de onde foi erradicada. Sua introdução no Brasil ocorreu em 1957, na região de Presidente Prudente, São Paulo, e até hoje vem causando problemas à citricultura no norte daquele Estado (1,2); a mosca do Mediterrâneo, Ceratitis capitata, é originária da região do Mediterrâneo, onde são cultivadas laranjas, maçãs e pêssegos, com o passar do tempo expandiu-se pelos países da África e da Ásia, próximos àquele mar, chegando ao Brasil em 1905, sendo atualmente um dos principais problemas dos pomares de citros e macieira, juntamente com moscas-das-frutas do gênero Anastrepha (3). A ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix, foi observada pela primeira vez em 1861, na África Oriental e hoje encontra-se difundida por praticamente todas as regiões cafeeiras do Brasil (4). O nematóide Tylenchulus semipenetrans foi constatado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1912, em raízes de mudas de laranjeira provenientes do Brasil, mais tarde foi verificado que se encontra disseminado pela maioria das regiões citrícolas do mundo.
Os pequenos exemplos acima ilustram as conseqüências nefastas do trânsito de vegetais infectados, dentro e fora do país, sobre os cultivos agrícolas. Conseqüências estas que geralmente obrigam o governo a gastar milhões de dólares (pagos pelo contribuinte) em campanhas de erradicação de pragas e doenças de plantas (como, por exemplo, a Campanha de Combate ao Bicudo do Algodoeiro e a Campanha Nacional de Erradicação do Cancro Cítrico) e obrigam o agricultor a empregar agrotóxicos na lavoura, aumentando o custo da produção, contaminando a si mesmo, o meio ambiente, os alimentos e os consumidores, além de contribuir para a extinção dos inimigos naturais das pragas.
O problema da introdução de pragas e doenças através de plantas e solo contaminados foi amenizado (infelizmente, não foi impedido) a partir da criação do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal pelo Decreto nº 24.114, de 12/04/34, publicado no D.O. U. de 04/05/34, e regulamentado pelo Decreto n° 67.112/70. A partir daí, o trânsito de vegetais pelo território nacional (comercialização, importação e exportação) passou a ser fiscalizado em portos, aeroportos, postos de fronteira, correios, estradas, lavouras e estabelecimentos comerciais por técnicos do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura do Ministério da Agricultura-SERDV/DFA/MA em todos os Estados brasileiros.
Todo o material vegetal vindo do exterior só poderá entrar no país se estiver acompanhado do Certificado Fitossanitário emitido por técnicos do Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do país de origem. Se o material estiver contaminado, ou não possuir Certificado Fitossanitário, é feita a sua devolução ao país de origem ou sua apreensão e destruição.
Dependendo do tipo de material e da região de origem, poderá ser prescrita uma quarentena em uma estação quarentenária credenciada pelo Ministério da Agricultura, onde serão realizados testes bacteriológicos, micológicos, virológicos, nematológicos e entomológicos para atestar a sanidade do material. Se não houver contaminação, ele é liberado para o plantio, caso contrário, incinerado mediante a emissão do Termo de Apreensão e Destruição.
Para o material vegetal destinado à exportação é fornecido um Certificado Fitossanitário, para o comércio interestadual é fornecida uma Permissão de Trânsito válida em todo o território nacional. Ambos são emitidos somente após o exame das partidas, sem nenhum ônus para o produtor rural, a não ser que seja necessário um tratamento com produtos químicos, cujas despesas cabem por conta do interessado.
Tais medidas, infelizmente, não impedem a entrada do material vegetal contaminado no país, contribuindo para a disseminação de pragas, pois muitos deles escapam à fiscalização, principalmente se forem carregados em pequenas quantidades em sacolas, carros e camionetes particulares.
É importante e necessária a ajuda, não só dos produtores rurais, mas das pessoas de uma maneira geral, na prevenção da disseminação de pragas e doenças dos cultivos agrícolas. Para atingir esse objetivo, são suficientes medidas simples como:
a) somente adquirir plantas em estabelecimentos comerciais idôneos, registrados no Ministério da Agricultura e que certifiquem a sanidade das mesmas;
b) evitar o transporte de mudas, frutos, sementes ou quaisquer outras partes do vegetal de uma região para outra;
c) caso desejar enviar o material de uma região para outra, procurar orientação com os técnicos da EMATER, da Secretaria Estadual de Agricultura ou comparecer ao Serviço de Defesa Sanitária Vegetal da Delegacia Federal de Agricultura da região;
d) no caso de importação de material vegetal, seja para plantio, seja para pesquisa, solicitar à instituição de pesquisa ou à empresa exportadora que somente o envie acompanhado de Certificado Fitossanitário emitido pelo Serviço de Defesa Sanitária Vegetal do país de origem e atendendo aos requisitos fitossanitários do Brasil.
Dessa maneira, todos estarão contribuindo para prevenir e evitar a introdução de novas pragas e doenças na lavoura e os gastos excessivos de sua erradicação.
Referências bibliográficas
1. Cristóvão, A . Focos de cancro cítrico ainda aparecem em São Paulo. In: Folha de São Paulo, 05/04/88.
2. Galli, F. et al. Manual de fitopatologia. Vol. II, Ceres, São Paulo (1980).
3. Gallo, D. et al. Manual de entomologia agrícola. Ceres, São Paulo (1978).
4. IBC/GERCA. Cultura do café no Brasil: manual de recomendações. Ministério da Agricultura Indústria e Comércio, Rio de Janeiro (1981).
5. Gonzaga, L. & Lordello, E. Nematóides das plantas cultivadas. Nobel, São Paulo (1981).
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília de 25/05/88)
FUNDAMENTOS DA PREVISÃO AGROMETEOROLÓGICA DE DOENÇAS E PRAGAS DOS VEGETAIS
FUNDAMENTOS DA PREVISÃO AGROMETEOROLÓGICA DE DOENÇAS E PRAGAS DOS VEGETAIS
Paccelli M. Zahler
Com o advento da Ecologia, verificou-se que os seres vivos se relacionavam entre si e com o meio onde viviam, e que o homem podia alterar este relacionamento. Assim, os conhecimentos acumulados sobre o ecossistema puderam ser aplicados na agricultura, ajudando os técnicos desse setor a entender e manejar adequadamente o agroecossistema.
O agroecossistema, ou seja, a lavoura, resulta da interferência humana nos ecossistemas naturais. É projetado e gerenciado para canalizar uma conversão máxima de energia solar e de energia auxiliar (trabalho humano, e animal, fertilizantes, agrotóxicos, água de irrigação, combustível para maquinaria) em alimentos e fibras. Mas, é um sistema frágil, pois a comunidade vegetal é substituída por uma única população vegetal (monocultura) que, raramente, faz parte da flora nativa. Isto resulta em abundância de alimento para insetos e em substrato para patógenos, cujo desenvolvimento é influenciado pelas condições microclimáticas.
Do entendimento das relações ecológicas entre a plantação, o clima, as pragas e patógenos, pode-se chegar à previsão agrometeorológica de doenças e pragas dos vegetais, conceituada por J. Palti como "a arte de definir, em valores quantitativos e com a maior acuracidade possível, os fatores que limitam o desenvolvimento de um parasita, relacionando-o com os períodos de maior probabilidade de ataque".
Com a previsão agrometeorológica é possível reduzir as aplicações preventivas de agrotóxicos e, conseqüentemente, a intoxicação dos aplicadores, a contaminação dos alimentos, a eliminação dos inimigos naturais das pragas e patógenos e, ainda, os custos da produção pois o agrotóxico será aplicado no momento certo e na dosagem adequada. Isto deve ser acompanhado com o desenvolvimento de técnicas de manejo e infra-estrutura adequadas e pela educação dos produtores para que eles saibam utilizar as informações.
Para elaborar um sistema de previsão agrometeorológica de doenças e pragas é necessário:
a) verificar se o cultivo tem importância econômica e uma ampla distribuição. Por exemplo, uma região de produtores de café ou algodão; uma região uniforme na qual os dados sejam válidos no raio de ação da estação;
b) conhecer a fenologia do cultivo, definindo os estágios suscetíveis ao ataque de pragas e doenças;
c) dispor de literatura sobre as pragas e doenças do cultivo. Por exemplo, verificar quais as pragas e doenças do trigo ocorrem no Brasil e realizar o levantamento sistemático de quais as pragas e doenças da cultura ocorrem na região e em que época do ano, ou seja, executar a vigilância fitossanitária;
d) verificar a importância econômica dos danos causados à produção pelas pragas e doenças, que também deve ter uma distribuição regional razoavelmente uniforme. Por exemplo, no caso da requeima da batata e do tomate, causada pelo fungo Phytophthora infestans, se 75% dos folíolos apresentar uma lesão aos 60 dias após o plantio, a perda esperada será de 50 a 100% na produção; se isto ocorrer aos 90 dias, a perda será de 20%; porém, se um mês antes da colheita o nível de ataque corresponder a menos de 75% das folhas, a perda será de 5% na produção;
e) conhecer profundamente a biologia e o ciclo evolutivo das pragas e doenças;
f) conhecer a influência das condições climáticas sobre a evolução das plantas e seus parasitas;
g) dispor de dados meteorológicos precisos;
h) conhecer a eficiência e a duração dos agrotóxicos no meio ambiente. Ex.: determinados produtos (clorados) são mais eficientes contra insetos em temperaturas mais baixas (15 ºC) ao passo que com outros (organofosforados) dá-se o oposto.
i) conhecer e dominar as técnicas de defesa fitossanitária e tê-las à disposição para um controle eficiente e econômico. Ex.: equipamento adequado, produto específico, condições climáticas favoráveis (vento com velocidade inferior a 2,0 m.s¹, temperatura menor que 27 ºC).
O resultado de todas essas informações é o "Aviso Fitossanitário" emitido por uma Estação Central após criteriosa análise.
A Estação de Avisos Fitossanitários tem funções semelhantes à uma Estação Meteorológica, dela diferindo por acrescentar às suas atividades estudos sobre a biologia, fenologia e climatologia do agroecossistema, enriquecidos por informações oriundas de Postos Secundários instalados em algumas lavouras da região. Tais informações são processadas e repassadas aos produtores de forma compreensível através dos meios de comunicação.
Os sistemas de previsão agrometeorológica de doenças e pragas disponíveis foram desenvolvidos para culturas de clima temperado como a macieira, a nogueira, o pessegueiro, a batata, e podem ser utilizados para a Região Sul do Brasil sem muita necessidade de adaptação. Ao passo que, para as demais regiões, enquanto não se dispõe de técnicas de previsão agrometeorológica adequadas, é aconselhável o manejo integrado de pragas através do monitoramento.
Portanto, há necessidade de cooperação mútua entre agrometeorologistas, fitopatólogos, entomólogos, fitossanitaristas, ecólogos, extensionistas rurais e produtores para se chegar a um sistema de previsão agrometeorológica de pragas e doenças dos vegetais adaptado a uma região específica.
Paccelli M. Zahler
Com o advento da Ecologia, verificou-se que os seres vivos se relacionavam entre si e com o meio onde viviam, e que o homem podia alterar este relacionamento. Assim, os conhecimentos acumulados sobre o ecossistema puderam ser aplicados na agricultura, ajudando os técnicos desse setor a entender e manejar adequadamente o agroecossistema.
O agroecossistema, ou seja, a lavoura, resulta da interferência humana nos ecossistemas naturais. É projetado e gerenciado para canalizar uma conversão máxima de energia solar e de energia auxiliar (trabalho humano, e animal, fertilizantes, agrotóxicos, água de irrigação, combustível para maquinaria) em alimentos e fibras. Mas, é um sistema frágil, pois a comunidade vegetal é substituída por uma única população vegetal (monocultura) que, raramente, faz parte da flora nativa. Isto resulta em abundância de alimento para insetos e em substrato para patógenos, cujo desenvolvimento é influenciado pelas condições microclimáticas.
Do entendimento das relações ecológicas entre a plantação, o clima, as pragas e patógenos, pode-se chegar à previsão agrometeorológica de doenças e pragas dos vegetais, conceituada por J. Palti como "a arte de definir, em valores quantitativos e com a maior acuracidade possível, os fatores que limitam o desenvolvimento de um parasita, relacionando-o com os períodos de maior probabilidade de ataque".
Com a previsão agrometeorológica é possível reduzir as aplicações preventivas de agrotóxicos e, conseqüentemente, a intoxicação dos aplicadores, a contaminação dos alimentos, a eliminação dos inimigos naturais das pragas e patógenos e, ainda, os custos da produção pois o agrotóxico será aplicado no momento certo e na dosagem adequada. Isto deve ser acompanhado com o desenvolvimento de técnicas de manejo e infra-estrutura adequadas e pela educação dos produtores para que eles saibam utilizar as informações.
Para elaborar um sistema de previsão agrometeorológica de doenças e pragas é necessário:
a) verificar se o cultivo tem importância econômica e uma ampla distribuição. Por exemplo, uma região de produtores de café ou algodão; uma região uniforme na qual os dados sejam válidos no raio de ação da estação;
b) conhecer a fenologia do cultivo, definindo os estágios suscetíveis ao ataque de pragas e doenças;
c) dispor de literatura sobre as pragas e doenças do cultivo. Por exemplo, verificar quais as pragas e doenças do trigo ocorrem no Brasil e realizar o levantamento sistemático de quais as pragas e doenças da cultura ocorrem na região e em que época do ano, ou seja, executar a vigilância fitossanitária;
d) verificar a importância econômica dos danos causados à produção pelas pragas e doenças, que também deve ter uma distribuição regional razoavelmente uniforme. Por exemplo, no caso da requeima da batata e do tomate, causada pelo fungo Phytophthora infestans, se 75% dos folíolos apresentar uma lesão aos 60 dias após o plantio, a perda esperada será de 50 a 100% na produção; se isto ocorrer aos 90 dias, a perda será de 20%; porém, se um mês antes da colheita o nível de ataque corresponder a menos de 75% das folhas, a perda será de 5% na produção;
e) conhecer profundamente a biologia e o ciclo evolutivo das pragas e doenças;
f) conhecer a influência das condições climáticas sobre a evolução das plantas e seus parasitas;
g) dispor de dados meteorológicos precisos;
h) conhecer a eficiência e a duração dos agrotóxicos no meio ambiente. Ex.: determinados produtos (clorados) são mais eficientes contra insetos em temperaturas mais baixas (15 ºC) ao passo que com outros (organofosforados) dá-se o oposto.
i) conhecer e dominar as técnicas de defesa fitossanitária e tê-las à disposição para um controle eficiente e econômico. Ex.: equipamento adequado, produto específico, condições climáticas favoráveis (vento com velocidade inferior a 2,0 m.s¹, temperatura menor que 27 ºC).
O resultado de todas essas informações é o "Aviso Fitossanitário" emitido por uma Estação Central após criteriosa análise.
A Estação de Avisos Fitossanitários tem funções semelhantes à uma Estação Meteorológica, dela diferindo por acrescentar às suas atividades estudos sobre a biologia, fenologia e climatologia do agroecossistema, enriquecidos por informações oriundas de Postos Secundários instalados em algumas lavouras da região. Tais informações são processadas e repassadas aos produtores de forma compreensível através dos meios de comunicação.
Os sistemas de previsão agrometeorológica de doenças e pragas disponíveis foram desenvolvidos para culturas de clima temperado como a macieira, a nogueira, o pessegueiro, a batata, e podem ser utilizados para a Região Sul do Brasil sem muita necessidade de adaptação. Ao passo que, para as demais regiões, enquanto não se dispõe de técnicas de previsão agrometeorológica adequadas, é aconselhável o manejo integrado de pragas através do monitoramento.
Portanto, há necessidade de cooperação mútua entre agrometeorologistas, fitopatólogos, entomólogos, fitossanitaristas, ecólogos, extensionistas rurais e produtores para se chegar a um sistema de previsão agrometeorológica de pragas e doenças dos vegetais adaptado a uma região específica.
AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS
AGROTÓXICOS NOS ALIMENTOS
Paccelli M. Zahler
No Distrito Federal, assim como em outras regiões do país, não é raro travar contato com produtores rurais, particularmente de hortifrutigranjeiros, e deles ouvir comentários a respeito de suas hortas: a familiar, que serve para o consumo próprio, e a comercial, cujos produtos se destinam à comercialização nas feiras ou nas centrais de abastecimento.
A diferença entre as duas é que na primeira não é aplicado “veneno”, ao passo que na segunda, as pulverizações são semanais e, em alguns casos, os prazos de carência – período entre a última aplicação e a colheita – não são respeitados.
Esta atitude foi justificada certa vez por um produtor do Rio de Janeiro da seguinte maneira: “Se a gente respeitar todos os prazos e carências, se arrisca a perder a produção. Tem mesmo é que pulverizar o veneno, nem que seja para colher depois”.
O uso intensivo de agrotóxicos pode ajudar a não perder a produção nas hortas comerciais, mas tem contribuído muito para a intoxicação e inclusive morte dos agricultores.
Segundo dados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Paraná, até 1981, foi constatada uma média anual de 50 mortes de trabalhadores rurais por intoxicação por agrotóxicos; em 1985, foram verificados 12 casos de aborto entre 20 mulheres que haviam trabalhado em lavouras de fumo, numa região próxima a Curitiba; e ocorreram vários casos de nascimento de bebês sem cérebro (anencefalia) em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Além disso, o ambiente entra em desequilíbrio e a lavoura nunca é mais a mesma, pois a cada safra são necessárias dosagens cada vez maiores para controlar as pragas.
De acordo com a FAO/ONU, tem havido um aumento crescente do número de insetos resistentes aos agrotóxicos, passando de 7 espécies resistentes em 1938 para 432 espécies de insetos resistentes em 1980, o que tem contribuído para um aumento cada vez maior do número de aplicações por safra.
A venda de produtos químicos de largo espectro sem a exigência do Receituário Agronômico, a falta de orientação dos agricultores para o uso racional dos mesmos e a não observância dos prazos de carência tem trazido para as mesas das cidades resíduos tóxicos bem acima do limite máximo de tolerância estabelecido pela FAO e pela OMS, através da Comissão do “Codex Alimentarius”.
Em 1984, o Instituto de Tecnologia de Alimentos-ITAL constatou que 41% de 1.176 amostras de produtos alimentícios (como óleos vegetais, salsichas, lingüiças e manteiga) coletadas em Campinas, São Paulo, apresentavam-se contaminadas por resíduos tóxicos.
Análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz em 17 amostras de quatro marcas de leite comercializadas em São Paulo, revelaram a presença de BHC (1,2,3,4,5,6 hexaclorociclohexano), em uma concentração de 0,03 ppm (partes por milhão), quando a tolerância máxima permitida pelo “Codex Alimentarius” era da ordem de 0,004 ppm, ou seja, sete vezes menos.
Resíduos de BHC e DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) também foram encontrados no leite materno. Tais produtos, apesar de terem a sua utilização proibida na agricultura (pertencem ao grupo dos organoclorados), são ainda empregados em campanhas de saúde pública para o controle de vetores de doenças como mosquitos e barbeiros.
Os resíduos de agrotóxicos não têm trazido prejuízos somente à saúde de aplicadores e consumidores, contudo, têm se estendido também à economia do país.
Há cerca de 5 anos, os Estados Unidos suspenderam a importação de melões e mamões brasileiros devido à presença de resíduos de EDB (dibrometo de etileno) utilizado até então para a desinfestação dos frutos, pois a Agência de Proteção ao Meio Ambiente daquele país verificou que este produto é cancerígeno, mutagênico e teratogênico.
A ingestão diária de alimentos contaminados por agrotóxicos pode provocar distúrbios neurológicos, esterilidade, problemas de má formação de feto (por exemplo, anencefalia e aborto), alterações nas células do fígado (detectadas sob microscópio eletrônico), perda de memória e retardo aos estímulos ambientais. Esta foi a conclusão de um estudo realizado pelo Dr. João Palermo Neto, da Universidade de São Paulo, apresentado em palestra na 41a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho este ano, em Fortaleza, Ceará.
Logicamente, tais alterações no comportamento irão afetar o rendimento do trabalho porque as pessoas apresentarão com freqüência dores de cabeça e indisposição.
O pesquisador acertadamente propôs que sejam revistos os níveis de tolerância de resíduos dos princípios ativos presentes nos alimentos, que podem ser “teoricamente” ingeridos diariamente pelas pessoas sem prejuízos para a saúde, hoje, completamente desatualizados; e que sejam destinados recursos para o reaparelhamento dos laboratórios já existentes, assim como para a criação de novos laboratórios de análises de resíduos tóxicos em alimentos no país, e desta maneira tornar possível um maior controle de qualidade dos produtos agrícolas.
Porém, enquanto os recursos não chegam, é necessário que o produtor se preocupe em utilizar racionalmente os produtos químicos na lavoura, já que estes são apenas um instrumento auxiliar no combate às pragas e doenças e que, quando utilizados em conjunto com outros instrumentos (como variedades resistentes, métodos culturais, inimigos naturais) irão ajudar no aumento da produção.
Para que sejam utilizados, é necessário que a praga ou a doença se encontre em um nível de infestação capaz de causar prejuízos econômicos à produção. Neste caso, a assessoria de um engenheiro agrônomo é indispensável para a avaliação da real necessidade de aplicação do produto químico, na dosagem e na freqüência adequadas, respeitando-se os prazos de carência.
Esse profissional, através do Receituário Agronômico, irá indicar, dentre os produtos disponíveis no mercado, o menos tóxico, de modo a evitar ao máximo que permaneçam resíduos nos alimentos em níveis prejudiciais à saúde do consumidor.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília nº 92, de 11/10/89, p.6)
Paccelli M. Zahler
No Distrito Federal, assim como em outras regiões do país, não é raro travar contato com produtores rurais, particularmente de hortifrutigranjeiros, e deles ouvir comentários a respeito de suas hortas: a familiar, que serve para o consumo próprio, e a comercial, cujos produtos se destinam à comercialização nas feiras ou nas centrais de abastecimento.
A diferença entre as duas é que na primeira não é aplicado “veneno”, ao passo que na segunda, as pulverizações são semanais e, em alguns casos, os prazos de carência – período entre a última aplicação e a colheita – não são respeitados.
Esta atitude foi justificada certa vez por um produtor do Rio de Janeiro da seguinte maneira: “Se a gente respeitar todos os prazos e carências, se arrisca a perder a produção. Tem mesmo é que pulverizar o veneno, nem que seja para colher depois”.
O uso intensivo de agrotóxicos pode ajudar a não perder a produção nas hortas comerciais, mas tem contribuído muito para a intoxicação e inclusive morte dos agricultores.
Segundo dados da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Paraná, até 1981, foi constatada uma média anual de 50 mortes de trabalhadores rurais por intoxicação por agrotóxicos; em 1985, foram verificados 12 casos de aborto entre 20 mulheres que haviam trabalhado em lavouras de fumo, numa região próxima a Curitiba; e ocorreram vários casos de nascimento de bebês sem cérebro (anencefalia) em Uruguaiana, Rio Grande do Sul. Além disso, o ambiente entra em desequilíbrio e a lavoura nunca é mais a mesma, pois a cada safra são necessárias dosagens cada vez maiores para controlar as pragas.
De acordo com a FAO/ONU, tem havido um aumento crescente do número de insetos resistentes aos agrotóxicos, passando de 7 espécies resistentes em 1938 para 432 espécies de insetos resistentes em 1980, o que tem contribuído para um aumento cada vez maior do número de aplicações por safra.
A venda de produtos químicos de largo espectro sem a exigência do Receituário Agronômico, a falta de orientação dos agricultores para o uso racional dos mesmos e a não observância dos prazos de carência tem trazido para as mesas das cidades resíduos tóxicos bem acima do limite máximo de tolerância estabelecido pela FAO e pela OMS, através da Comissão do “Codex Alimentarius”.
Em 1984, o Instituto de Tecnologia de Alimentos-ITAL constatou que 41% de 1.176 amostras de produtos alimentícios (como óleos vegetais, salsichas, lingüiças e manteiga) coletadas em Campinas, São Paulo, apresentavam-se contaminadas por resíduos tóxicos.
Análises feitas pelo Instituto Adolfo Lutz em 17 amostras de quatro marcas de leite comercializadas em São Paulo, revelaram a presença de BHC (1,2,3,4,5,6 hexaclorociclohexano), em uma concentração de 0,03 ppm (partes por milhão), quando a tolerância máxima permitida pelo “Codex Alimentarius” era da ordem de 0,004 ppm, ou seja, sete vezes menos.
Resíduos de BHC e DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) também foram encontrados no leite materno. Tais produtos, apesar de terem a sua utilização proibida na agricultura (pertencem ao grupo dos organoclorados), são ainda empregados em campanhas de saúde pública para o controle de vetores de doenças como mosquitos e barbeiros.
Os resíduos de agrotóxicos não têm trazido prejuízos somente à saúde de aplicadores e consumidores, contudo, têm se estendido também à economia do país.
Há cerca de 5 anos, os Estados Unidos suspenderam a importação de melões e mamões brasileiros devido à presença de resíduos de EDB (dibrometo de etileno) utilizado até então para a desinfestação dos frutos, pois a Agência de Proteção ao Meio Ambiente daquele país verificou que este produto é cancerígeno, mutagênico e teratogênico.
A ingestão diária de alimentos contaminados por agrotóxicos pode provocar distúrbios neurológicos, esterilidade, problemas de má formação de feto (por exemplo, anencefalia e aborto), alterações nas células do fígado (detectadas sob microscópio eletrônico), perda de memória e retardo aos estímulos ambientais. Esta foi a conclusão de um estudo realizado pelo Dr. João Palermo Neto, da Universidade de São Paulo, apresentado em palestra na 41a. Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em julho este ano, em Fortaleza, Ceará.
Logicamente, tais alterações no comportamento irão afetar o rendimento do trabalho porque as pessoas apresentarão com freqüência dores de cabeça e indisposição.
O pesquisador acertadamente propôs que sejam revistos os níveis de tolerância de resíduos dos princípios ativos presentes nos alimentos, que podem ser “teoricamente” ingeridos diariamente pelas pessoas sem prejuízos para a saúde, hoje, completamente desatualizados; e que sejam destinados recursos para o reaparelhamento dos laboratórios já existentes, assim como para a criação de novos laboratórios de análises de resíduos tóxicos em alimentos no país, e desta maneira tornar possível um maior controle de qualidade dos produtos agrícolas.
Porém, enquanto os recursos não chegam, é necessário que o produtor se preocupe em utilizar racionalmente os produtos químicos na lavoura, já que estes são apenas um instrumento auxiliar no combate às pragas e doenças e que, quando utilizados em conjunto com outros instrumentos (como variedades resistentes, métodos culturais, inimigos naturais) irão ajudar no aumento da produção.
Para que sejam utilizados, é necessário que a praga ou a doença se encontre em um nível de infestação capaz de causar prejuízos econômicos à produção. Neste caso, a assessoria de um engenheiro agrônomo é indispensável para a avaliação da real necessidade de aplicação do produto químico, na dosagem e na freqüência adequadas, respeitando-se os prazos de carência.
Esse profissional, através do Receituário Agronômico, irá indicar, dentre os produtos disponíveis no mercado, o menos tóxico, de modo a evitar ao máximo que permaneçam resíduos nos alimentos em níveis prejudiciais à saúde do consumidor.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília nº 92, de 11/10/89, p.6)
PRAGAS:UMA VISÃO ECOLÓGICA
PRAGAS: UMA VISÃO ECOLÓGICA
Paccelli M. Zahler
Sabemos que o trânsito de vegetais e suas partes contaminadas pode disseminar as pragas e as doenças da lavoura. Mas, somente ele é o responsável pelo aparecimento de pragas e doenças na agricultura? Não! E os estudos ecológicos têm mostrado por quê.
A Ecologia nasceu em 1866, quando o biólogo alemão Ernest Haeckel assim chamou a “ciência que estuda as relações entre o ser vivo e o meio em que ele se encontra”. Entretanto, foram necessários quase 100 anos para que a importância dessa ciência fosse reconhecida e para que ela passasse a fazer parte do dia-a-dia das pessoas.
Nestes últimos 30 anos, com a crescente industrialização e a degradação da qualidade ambiental, através de um uso cada vez maior de produtos químicos (especialmente na agricultura), e suas conseqüências (intoxicações, efeitos teratogênicos, mortes, aumento de resistência de pragas, poluição dos rios, lagos, desastres ecológicos), houve uma tomada de consciência por parte das pessoas, as quais passaram a lutar pela preservação ambiental, reunindo-se em grupos ecológicos. No mesmo período, ficou demonstrado que os recursos naturais são limitados e que, para que o homem possa utilizá-los sem extingui-los, garantindo a sua sobrevivência no planeta nas próximas décadas, precisa estudar técnicas de manejo adequadas, possibilitando a renovação dos mesmos.
O estudo ecológico inicia a partir de uma unidade básica chamada ecossistema ou sistema ecológico, pois inclui tanto os organismos (animais e vegetais) quanto o ambiente abiótico (solo, água e minerais). A energia necessária para sua manutenção provém do sol.
As diferentes populações de animais e vegetais estão adaptados às condições médias de clima e solo do ecossistema em que vivem e se influenciam mutuamente, mantendo o equilíbrio ecológico. Em determinadas ocasiões, todavia, o equilíbrio pode ser rompido pela ocorrência de condições climáticas favoráveis ou abundância de alimento, fazendo com que uma determinada população se sobreponha às outras por um certo tempo, retornando posteriormente à condição inicial.
Devido à diversidade de espécies, o equilíbrio ecológico é mais fácil de ser mantido dentro do ecossistema natural, pois, como os recursos ambientais são limitados (principalmente o alimento) e ocorre competição por esses recursos entre indivíduos da mesma espécie, além de sofrerem a ação de inimigos naturais, as populações de consumidores (insetos, ácaros) têm a sua taxa reprodutiva reduzida por não conseguirem atingir a maturidade sexual.
Com uma população humana cada vez maior, tem crescido a necessidade de produção de alimentos e com ela a necessidade de interferir no ecossistema natural através da agricultura. Esta interferência, por sua vez, não se dá de uma forma racional e planejada, levando em conta a capacidade de uso e renovação dos recursos naturais, apesar do amparo da legislação ambiental.
No caso brasileiro, a pretexto de expansão da fronteira agrícola e da “necessidade” de aproveitamento dos solos (como os do cerrado e da Amazônia) para a produção de alimentos, desmatam-se e queimam-se áreas imensas para a implantação de culturas exóticas, destinadas à exportação e não à alimentação como era o propósito inicial.
As conseqüências dessa forma de ocupação do território nacional têm sido a destruição de florestas nativas pelo desmatamento (por exemplo, Rondônia possuía 0,5% de sua área total desmatada em 1975, passando para 5,74% em 1983, prevendo-se a extinção de suas florestas na próxima década; 205 mil km² de florestas foram devastadas na região amazônica no ano de 1987), erosão do solo, desertificação (como em Alegrete e São Gabriel no Rio Grande do Sul, e algumas clareiras desertificadas em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Rondônia), poluição de rios, lagos e solos com fertilizantes e agrotóxicos; e o aumento da vulnerabilidade das áreas plantadas às mudanças climáticas e às pragas.
A interferência humana no ecossistema natural provoca a formação de ecossistemas artificiais chamados ecossistemas agrícolas ou agroecossistemas, os quais são projetados e gerenciados para canalizar uma conversão máxima de energia solar e de energia auxiliar (como trabalho humano e animal, fertilizantes, agrotóxicos, água de irrigação, combustível para maquinaria) em alimentos e fibras. Essa energia auxiliar também é usada na manutenção do agroecossistema (no caso do ecossistema natural, isto seria feito somente pela energia solar convertida diretamente em alimento).
São utilizadas também plantas e animais domésticos selecionados geneticamente de forma artificial e adaptados a otimizar a produção neste sistema agrícola subsidiado com energia. Além disso, as relações entre os organismos dentro do agroecossistema tem a sua complexidade diminuída, pois ao invés de várias populações de diferentes vegetais, passa-se a ter um só cultivo agrícola (monocultura), que geralmente não faz parte da flora da região.
Com a eliminação da vegetação nativa ou parte dela para plantio, elimina-se o habitat natural dos animais fitófagos, bem como o de seus inimigos naturais.
Passa-se a ter, em um determinado momento, uma abundância de alimento (representado pelo cultivo agrícola) disponível aos animais fitófagos (insetos e ácaros) abrigados no que restou da mata nativa ou introduzidos através do trânsito de vegetais contaminados ou infestados. Estes animais necessitam de sais minerais, glicídios, aminoácidos, lipídios, esteróis e vitaminas para crescer, atingir a maturidade sexual e produzir novos descendentes. Tais substâncias são encontradas nas folhas ou em outras partes do vegetal em determinados períodos do seu desenvolvimento; e isto irá determinar a especificidade do ataque de pragas sobre a raiz, o caule, as folhas, as flores ou frutos.
Entretanto, para que isto aconteça, o animal fitófago precisa se estabelecer na área de cultivo, sendo necessárias três condições:
1- que ele se desloque ou seja transportado para a nova área em condições viáveis;
2- que ele encontre condições ambientais propícias e o hóspede adequado; e
3- que as condições sejam adequadas para o seu desenvolvimento e reprodução no novo ambiente.
Cumpridos estes três requisitos, ter-se-á uma cultura atacada, cujas perdas na produção são difíceis de ser avaliadas porém estima-se que seja entre 30 e 35%.
Com a formação de um agroecossistema e a redução da competição entre as diferentes espécies de animais fitófagos, juntamente com a eliminação de seus predadores, parasitas ou patógenos e a abertura não criteriosa de uma área nativa, os três requisitos citados são mais fáceis de serem cumpridos. Isto porque a taxa reprodutiva dos fitófagos é mais alta que a dos seus hospedeiros e seu número tenderá a aumentar até o limite de suprimento de algum recurso essencial que, freqüentemente, é o alimento existente em abundância em uma monocultura.
Vê-se pois que as pragas não surgem por acaso na lavoura, mas são provocadas pelo manejo inadequado dos recursos naturais.
É imprescindível um investimento maior na pesquisa de métodos de cultivo menos agressivos ao meio ambiente, bem como incentivar o produtor rural a utilizar racionalmente os recursos naturais e a diversificar os cultivos agrícolas.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília n° 28, de 20/7/88, p. 6)
Paccelli M. Zahler
Sabemos que o trânsito de vegetais e suas partes contaminadas pode disseminar as pragas e as doenças da lavoura. Mas, somente ele é o responsável pelo aparecimento de pragas e doenças na agricultura? Não! E os estudos ecológicos têm mostrado por quê.
A Ecologia nasceu em 1866, quando o biólogo alemão Ernest Haeckel assim chamou a “ciência que estuda as relações entre o ser vivo e o meio em que ele se encontra”. Entretanto, foram necessários quase 100 anos para que a importância dessa ciência fosse reconhecida e para que ela passasse a fazer parte do dia-a-dia das pessoas.
Nestes últimos 30 anos, com a crescente industrialização e a degradação da qualidade ambiental, através de um uso cada vez maior de produtos químicos (especialmente na agricultura), e suas conseqüências (intoxicações, efeitos teratogênicos, mortes, aumento de resistência de pragas, poluição dos rios, lagos, desastres ecológicos), houve uma tomada de consciência por parte das pessoas, as quais passaram a lutar pela preservação ambiental, reunindo-se em grupos ecológicos. No mesmo período, ficou demonstrado que os recursos naturais são limitados e que, para que o homem possa utilizá-los sem extingui-los, garantindo a sua sobrevivência no planeta nas próximas décadas, precisa estudar técnicas de manejo adequadas, possibilitando a renovação dos mesmos.
O estudo ecológico inicia a partir de uma unidade básica chamada ecossistema ou sistema ecológico, pois inclui tanto os organismos (animais e vegetais) quanto o ambiente abiótico (solo, água e minerais). A energia necessária para sua manutenção provém do sol.
As diferentes populações de animais e vegetais estão adaptados às condições médias de clima e solo do ecossistema em que vivem e se influenciam mutuamente, mantendo o equilíbrio ecológico. Em determinadas ocasiões, todavia, o equilíbrio pode ser rompido pela ocorrência de condições climáticas favoráveis ou abundância de alimento, fazendo com que uma determinada população se sobreponha às outras por um certo tempo, retornando posteriormente à condição inicial.
Devido à diversidade de espécies, o equilíbrio ecológico é mais fácil de ser mantido dentro do ecossistema natural, pois, como os recursos ambientais são limitados (principalmente o alimento) e ocorre competição por esses recursos entre indivíduos da mesma espécie, além de sofrerem a ação de inimigos naturais, as populações de consumidores (insetos, ácaros) têm a sua taxa reprodutiva reduzida por não conseguirem atingir a maturidade sexual.
Com uma população humana cada vez maior, tem crescido a necessidade de produção de alimentos e com ela a necessidade de interferir no ecossistema natural através da agricultura. Esta interferência, por sua vez, não se dá de uma forma racional e planejada, levando em conta a capacidade de uso e renovação dos recursos naturais, apesar do amparo da legislação ambiental.
No caso brasileiro, a pretexto de expansão da fronteira agrícola e da “necessidade” de aproveitamento dos solos (como os do cerrado e da Amazônia) para a produção de alimentos, desmatam-se e queimam-se áreas imensas para a implantação de culturas exóticas, destinadas à exportação e não à alimentação como era o propósito inicial.
As conseqüências dessa forma de ocupação do território nacional têm sido a destruição de florestas nativas pelo desmatamento (por exemplo, Rondônia possuía 0,5% de sua área total desmatada em 1975, passando para 5,74% em 1983, prevendo-se a extinção de suas florestas na próxima década; 205 mil km² de florestas foram devastadas na região amazônica no ano de 1987), erosão do solo, desertificação (como em Alegrete e São Gabriel no Rio Grande do Sul, e algumas clareiras desertificadas em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Goiás e Rondônia), poluição de rios, lagos e solos com fertilizantes e agrotóxicos; e o aumento da vulnerabilidade das áreas plantadas às mudanças climáticas e às pragas.
A interferência humana no ecossistema natural provoca a formação de ecossistemas artificiais chamados ecossistemas agrícolas ou agroecossistemas, os quais são projetados e gerenciados para canalizar uma conversão máxima de energia solar e de energia auxiliar (como trabalho humano e animal, fertilizantes, agrotóxicos, água de irrigação, combustível para maquinaria) em alimentos e fibras. Essa energia auxiliar também é usada na manutenção do agroecossistema (no caso do ecossistema natural, isto seria feito somente pela energia solar convertida diretamente em alimento).
São utilizadas também plantas e animais domésticos selecionados geneticamente de forma artificial e adaptados a otimizar a produção neste sistema agrícola subsidiado com energia. Além disso, as relações entre os organismos dentro do agroecossistema tem a sua complexidade diminuída, pois ao invés de várias populações de diferentes vegetais, passa-se a ter um só cultivo agrícola (monocultura), que geralmente não faz parte da flora da região.
Com a eliminação da vegetação nativa ou parte dela para plantio, elimina-se o habitat natural dos animais fitófagos, bem como o de seus inimigos naturais.
Passa-se a ter, em um determinado momento, uma abundância de alimento (representado pelo cultivo agrícola) disponível aos animais fitófagos (insetos e ácaros) abrigados no que restou da mata nativa ou introduzidos através do trânsito de vegetais contaminados ou infestados. Estes animais necessitam de sais minerais, glicídios, aminoácidos, lipídios, esteróis e vitaminas para crescer, atingir a maturidade sexual e produzir novos descendentes. Tais substâncias são encontradas nas folhas ou em outras partes do vegetal em determinados períodos do seu desenvolvimento; e isto irá determinar a especificidade do ataque de pragas sobre a raiz, o caule, as folhas, as flores ou frutos.
Entretanto, para que isto aconteça, o animal fitófago precisa se estabelecer na área de cultivo, sendo necessárias três condições:
1- que ele se desloque ou seja transportado para a nova área em condições viáveis;
2- que ele encontre condições ambientais propícias e o hóspede adequado; e
3- que as condições sejam adequadas para o seu desenvolvimento e reprodução no novo ambiente.
Cumpridos estes três requisitos, ter-se-á uma cultura atacada, cujas perdas na produção são difíceis de ser avaliadas porém estima-se que seja entre 30 e 35%.
Com a formação de um agroecossistema e a redução da competição entre as diferentes espécies de animais fitófagos, juntamente com a eliminação de seus predadores, parasitas ou patógenos e a abertura não criteriosa de uma área nativa, os três requisitos citados são mais fáceis de serem cumpridos. Isto porque a taxa reprodutiva dos fitófagos é mais alta que a dos seus hospedeiros e seu número tenderá a aumentar até o limite de suprimento de algum recurso essencial que, freqüentemente, é o alimento existente em abundância em uma monocultura.
Vê-se pois que as pragas não surgem por acaso na lavoura, mas são provocadas pelo manejo inadequado dos recursos naturais.
É imprescindível um investimento maior na pesquisa de métodos de cultivo menos agressivos ao meio ambiente, bem como incentivar o produtor rural a utilizar racionalmente os recursos naturais e a diversificar os cultivos agrícolas.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília n° 28, de 20/7/88, p. 6)
PAPEL DA DEFESA SANITÁRIA VEGETAL
PAPEL DA DEFESA SANITÁRIA VEGETAL
Paccelli M. Zahler
Um dos grandes desafios que o homem enfrenta é o controle de pragas agrícolas, ou seja, daqueles organismos (animais ou vegetais) capazes de causar prejuízos econômicos à produção. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em média, 30% da produção agrícola são perdidos pela ação de pragas, podendo chegar a 100%, dependendo da intensidade do ataque. Isto representou, no período de 1951-1960, um prejuízo de US$ 4 bilhões/ano.
Com o desenvolvimento das técnicas de manejo e o avanço da pesquisa científica, tais perdas podem ser reduzidas pela metade. Entretanto, nem todos os agricultores têm acesso às novas tecnologias de cultivo, principalmente no Terceiro Mundo, devido aos fatores de ordem política, social, econômica e à falta de informações. Verifica-se, então, perdas superiores a 30%, desperdício de alimentos e, conseqüentemente, a fome.
A implantação de lavouras de importância econômica implica o desmatamento de grandes áreas e o desequilíbrio do ecossistema natural. Neste processo, substitui-se a vegetação nativa, constituída por várias espécies de plantas, por vegetais de uma só espécie - a monocultura. Isto representa uma fonte abundante de alimentos para as pragas em potencial, pois o habitat dos seus inimigos naturais é destruído.
Sem o controle natural, uma população de insetos pode se proliferar em progressão geométrica (explosão populacional), prejudicando a produção. Tal ocorreria em menor escala se o agroecossistema estivesse em equilíbrio, pois os inimigos naturais e os fatores climáticos (resistência do meio ambiente) se encarregariam de manter a população da praga em um nível mais baixo, de modo a não causar prejuízos econômicos à produção.
Sendo os insetos, fungos, bactérias, vírus e nematóides partes do agroecossistema, não é possível nem interessante exterminá-los para não se romper o equilíbrio. Deve-se, pois, conviver com eles, manejando o cultivo agrícola de forma adequada para minimizar sua ação.
O conjunto de práticas destinadas a prevenir, retardar ou impedir a entrada de novas pragas na lavoura constitui a Defesa Sanitária Vegetal ou Proteção de Plantas.
Para atingir tal objetivo, foram desenvolvidas, no decorrer dos anos, uma série de técnicas e métodos de proteção de plantas, dentre eles, os métodos culturais (rotação de culturas, podas), métodos mecânicos (catação manual, armadilhas), resistência de plantas (melhoramento genético, biotecnologia), controle de insetos pelo comportamento (feromônios sexuais, juvenóides), controle físico (fogo, drenagem, solarização), radiação eletromagnética (armadilhas luminosas), controle pelo som (simulação de sons desejáveis ou não), radiação ionizante (raios X, raios gama), controle biológico (inimigos naturais), controle químico (agrotóxicos) e métodos legislativos (normas federais, estaduais e municipais). Todos estes métodos são eficientes quando executados em conjunto e dentro de um planejamento prévio de implantação da lavoura, contituindo o chamado manejo integrado de pragas (MIP).
Nesse contexto, cabe ao Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, o emprego dos métodos legislativos de controle de pragas, através da formulação de normas que impeçam a entrada de vegetais infestados com pragas que venham a prejudicar a agricultura nacional, com ênfase naquelas que não existem no país - as pragas de importância quarentenária, bem como a saída de vegetais em iguais condições e que possam prejudicar a agricultura de outros países, em obediência à Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais, assinada em Roma em 16/12/51.
A legislação fitossanitária brasileira consta do Decreto nº 24.114/34, que aprovou o Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal; da Lei nº 7.802/89, regulamentada pelo Decreto n° 98.816/90, que disciplina a fabricação, o comércio e o uso de agrotóxicos; e de suas respectivas legislações complementares.
Para dar cumprimento ao Decreto nº 24.114/34, o Ministério da Agricultura mantém representações em cada Unidade da Federação - Delegacias Federais de Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária (DFAARA), as quais, através das Seções e Núcleos de Sanidade Vegetal, mantêm Postos de Vigilância Fitossanitária nos principais portos, aeroportos, postos de fronteira e agências centrais de correios e telégrafos para a fiscalização do trânsito nacional e internacional de vegetais, prevenindo ou retardando a entrada de pragas de importância quarentenária no país, bem como a sua disseminação pelas lavouras.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília de 24/11/93, p.10)
Paccelli M. Zahler
Um dos grandes desafios que o homem enfrenta é o controle de pragas agrícolas, ou seja, daqueles organismos (animais ou vegetais) capazes de causar prejuízos econômicos à produção. Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, em média, 30% da produção agrícola são perdidos pela ação de pragas, podendo chegar a 100%, dependendo da intensidade do ataque. Isto representou, no período de 1951-1960, um prejuízo de US$ 4 bilhões/ano.
Com o desenvolvimento das técnicas de manejo e o avanço da pesquisa científica, tais perdas podem ser reduzidas pela metade. Entretanto, nem todos os agricultores têm acesso às novas tecnologias de cultivo, principalmente no Terceiro Mundo, devido aos fatores de ordem política, social, econômica e à falta de informações. Verifica-se, então, perdas superiores a 30%, desperdício de alimentos e, conseqüentemente, a fome.
A implantação de lavouras de importância econômica implica o desmatamento de grandes áreas e o desequilíbrio do ecossistema natural. Neste processo, substitui-se a vegetação nativa, constituída por várias espécies de plantas, por vegetais de uma só espécie - a monocultura. Isto representa uma fonte abundante de alimentos para as pragas em potencial, pois o habitat dos seus inimigos naturais é destruído.
Sem o controle natural, uma população de insetos pode se proliferar em progressão geométrica (explosão populacional), prejudicando a produção. Tal ocorreria em menor escala se o agroecossistema estivesse em equilíbrio, pois os inimigos naturais e os fatores climáticos (resistência do meio ambiente) se encarregariam de manter a população da praga em um nível mais baixo, de modo a não causar prejuízos econômicos à produção.
Sendo os insetos, fungos, bactérias, vírus e nematóides partes do agroecossistema, não é possível nem interessante exterminá-los para não se romper o equilíbrio. Deve-se, pois, conviver com eles, manejando o cultivo agrícola de forma adequada para minimizar sua ação.
O conjunto de práticas destinadas a prevenir, retardar ou impedir a entrada de novas pragas na lavoura constitui a Defesa Sanitária Vegetal ou Proteção de Plantas.
Para atingir tal objetivo, foram desenvolvidas, no decorrer dos anos, uma série de técnicas e métodos de proteção de plantas, dentre eles, os métodos culturais (rotação de culturas, podas), métodos mecânicos (catação manual, armadilhas), resistência de plantas (melhoramento genético, biotecnologia), controle de insetos pelo comportamento (feromônios sexuais, juvenóides), controle físico (fogo, drenagem, solarização), radiação eletromagnética (armadilhas luminosas), controle pelo som (simulação de sons desejáveis ou não), radiação ionizante (raios X, raios gama), controle biológico (inimigos naturais), controle químico (agrotóxicos) e métodos legislativos (normas federais, estaduais e municipais). Todos estes métodos são eficientes quando executados em conjunto e dentro de um planejamento prévio de implantação da lavoura, contituindo o chamado manejo integrado de pragas (MIP).
Nesse contexto, cabe ao Governo Federal, através do Ministério da Agricultura, o emprego dos métodos legislativos de controle de pragas, através da formulação de normas que impeçam a entrada de vegetais infestados com pragas que venham a prejudicar a agricultura nacional, com ênfase naquelas que não existem no país - as pragas de importância quarentenária, bem como a saída de vegetais em iguais condições e que possam prejudicar a agricultura de outros países, em obediência à Convenção Internacional para a Proteção dos Vegetais, assinada em Roma em 16/12/51.
A legislação fitossanitária brasileira consta do Decreto nº 24.114/34, que aprovou o Regulamento de Defesa Sanitária Vegetal; da Lei nº 7.802/89, regulamentada pelo Decreto n° 98.816/90, que disciplina a fabricação, o comércio e o uso de agrotóxicos; e de suas respectivas legislações complementares.
Para dar cumprimento ao Decreto nº 24.114/34, o Ministério da Agricultura mantém representações em cada Unidade da Federação - Delegacias Federais de Agricultura, Abastecimento e Reforma Agrária (DFAARA), as quais, através das Seções e Núcleos de Sanidade Vegetal, mantêm Postos de Vigilância Fitossanitária nos principais portos, aeroportos, postos de fronteira e agências centrais de correios e telégrafos para a fiscalização do trânsito nacional e internacional de vegetais, prevenindo ou retardando a entrada de pragas de importância quarentenária no país, bem como a sua disseminação pelas lavouras.
(Publicado no Suplemento do Campo do Jornal de Brasília de 24/11/93, p.10)
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