A LUA INFLUENCIA A AGRICULTURA?
Paccelli M. Zahler
Os agricultores tradicionais costumam falar das épocas mais apropriadas para o plantio de determinadas culturas citando a Lua. Por exemplo, produtos agrícolas que crescem fora da terra como o tomate, o pimentão e o chuchu, teriam um melhor desenvolvimento se plantados na Lua Cheia; ao passo que aqueles que crescem embaixo da terra, como o amendoim, a cenoura e a batata se desenvolveriam melhor se plantados na Lua Nova.
A idéia básica é que a Lua Nova, estando entre a Terra e o Sol, ‘puxaria’ as raízes para baixo; por outro lado, a Lua Cheia, estando do lado oposto ao Sol, ‘puxaria’ a copa para cima, tal como acontece com as marés, reconhecidamente influenciadas pelas fases da Lua.
Nas fases de Lua Minguante e Crescente, haveria uma estagnação do desenvolvimento das plantas, já que corresponderia a um período de maré baixa.
Então, como que em uma retomada de métodos antigos de tratamento, freqüentemente se ouve propaganda de calendários lunares, os quais auxiliariam plantios, cortes de cabelo, etc.
Para entender o por quê dessa crença de que a Lua influencia os plantios, há que se reportar ao Antigo Egito, aproximadamente no ano 3.000 a.C. e conhecer um pouco da história do calendário.
Como se sabe, o Egito conseguiu suplantar a aridez do deserto do Saara graças ao rio Nilo, que banha 4 % de suas terras e, em cujas margens, sempre viveu a esmagadora maioria de seus habitantes.
Foi nas margens do rio Nilo que os antigos egípcios construíram templos, pirâmides, bibliotecas, estudaram o movimento das estrelas, criaram a escrita hieroglífica e desenvolveram a agricultura, produzindo trigo, milho, cevada, linho, hortaliças, bovinos, ovinos e caprinos. Para isso, mediam as cheias e as vazantes do Nilo, programando o cultivo da terra para evitar perdas na produção. Visando facilitar este trabalho, relacionaram as cheias do Nilo com as fases da Lua. Dessa relação, surgiu o primeiro calendário criado pelo homem - o calendário lunar - que dividia o ano em 12 meses de 29 ou 30 dias.
Verificou-se, mais tarde, que este calendário era impreciso, pois atrasava seis horas a cada ano e, com o passar do tempo, a entrada das estações não correspondia à época prevista.
Sob Júlio César, o Egito caiu nas mãos dos romanos, os quais se entusiasmaram com a exatidão do calendário egípcio em relação ao que adotavam. Assim, no ano 46 a.C., foi chamado a Roma o astrônomo Sorígenes acompanhado de uma equipe de peritos com a missão de reformar o calendário romano (de 304 dias), com base no calendário egípcio. Nasce o calendário juliano, estabelecendo o Ano Civil de 365 dias e um ano bissexto de 366 dias a cada 4 anos. Mesmo assim, o problema da imprecisão continuava.
Em 525, o historiador grego Dionísio propôs, tendo por base o calendário juliano, o calendário cristão, tomando o ano do nascimento de Cristo como o ano 1 do século I; e os acontecimento anteriores a esta data passaram a ser contados de trás para frente e acrescentados da sigla a.C. (antes de Cristo).
Em 1582, o Papa Gregório XIII determinou a eliminação de 3 anos bissextos a cada 400 anos no calendário juliano, pois havia uma diferença de 10 dias. Este ficou conhecido como calendário gregoriano.
Com o avanço da Ciência, no início do século XX verificou-se que o ano médio tinha 365 dias, 5 horas, 48 minutos e 45 segundos; e que Cristo havia nascido no ano 4 a.C.
O calendário lunar, como foi visto, é impreciso e até hoje nada foi comprovado cientificamente se a Lua realmente influenciaria a agricultura. Além do folclore, existem algumas observações esparsas sobre o comportamento dos insetos, por exemplo, as mariposas,onde se observa uma maior atividade na fase da Lua Nova ou Minguante do que nas fases Crescente ou Cheia mas, isso se deve à presença de maior luminosidade e não à ação direta da Lua uma vez que tais insetos não suportam a luz. Há também um estudo estatístico realizado nos hospitais, manicômios e delegacias de polícia norte-americanas, que deu origem à ‘hipótese das marés biológicas’, segundo a qual, assim como ocorre com as marés, na fase da Lua Cheia haveria um aumento da atividade sanguínea, o que promoveria um maior sangramento durante as cirurgias, maior incidência de crimes e maiores crises de loucura. Isto,porém, não está confirmado cientificamente.
Quem trabalha na agricultura sabe o quanto esta atividade é complexa e dependente dos fatores climáticos. Não basta, pois, ter uma boa semente, é necessário preparar bem a terra, fazer uma adubação equilibrada, controlar as pragas, evitar os excessos e os déficits hídricos, cuidar da colheita, do armazenamento e da embalagem dos produtos para evitar a deterioração. Além disso, a força gravitacional da Terra é bem maior que a da Lua. Então, como separar todos estes fatores e afirmar categoricamente que a agricultura depende também da fase da Lua?
A pergunta continua sem resposta, mas, considerando a imprecisão do calendário lunar e a gama de fatores dos quais depende a atividade agrícola, dificilmente se poderá provar qualquer influência da Lua sobre os cultivos.
segunda-feira, julho 12, 2004
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