FUNDAMENTOS DA PREVISÃO AGROMETEOROLÓGICA DE DOENÇAS E PRAGAS DOS VEGETAIS
Paccelli M. Zahler
Com o advento da Ecologia, verificou-se que os seres vivos se relacionavam entre si e com o meio onde viviam, e que o homem podia alterar este relacionamento. Assim, os conhecimentos acumulados sobre o ecossistema puderam ser aplicados na agricultura, ajudando os técnicos desse setor a entender e manejar adequadamente o agroecossistema.
O agroecossistema, ou seja, a lavoura, resulta da interferência humana nos ecossistemas naturais. É projetado e gerenciado para canalizar uma conversão máxima de energia solar e de energia auxiliar (trabalho humano, e animal, fertilizantes, agrotóxicos, água de irrigação, combustível para maquinaria) em alimentos e fibras. Mas, é um sistema frágil, pois a comunidade vegetal é substituída por uma única população vegetal (monocultura) que, raramente, faz parte da flora nativa. Isto resulta em abundância de alimento para insetos e em substrato para patógenos, cujo desenvolvimento é influenciado pelas condições microclimáticas.
Do entendimento das relações ecológicas entre a plantação, o clima, as pragas e patógenos, pode-se chegar à previsão agrometeorológica de doenças e pragas dos vegetais, conceituada por J. Palti como "a arte de definir, em valores quantitativos e com a maior acuracidade possível, os fatores que limitam o desenvolvimento de um parasita, relacionando-o com os períodos de maior probabilidade de ataque".
Com a previsão agrometeorológica é possível reduzir as aplicações preventivas de agrotóxicos e, conseqüentemente, a intoxicação dos aplicadores, a contaminação dos alimentos, a eliminação dos inimigos naturais das pragas e patógenos e, ainda, os custos da produção pois o agrotóxico será aplicado no momento certo e na dosagem adequada. Isto deve ser acompanhado com o desenvolvimento de técnicas de manejo e infra-estrutura adequadas e pela educação dos produtores para que eles saibam utilizar as informações.
Para elaborar um sistema de previsão agrometeorológica de doenças e pragas é necessário:
a) verificar se o cultivo tem importância econômica e uma ampla distribuição. Por exemplo, uma região de produtores de café ou algodão; uma região uniforme na qual os dados sejam válidos no raio de ação da estação;
b) conhecer a fenologia do cultivo, definindo os estágios suscetíveis ao ataque de pragas e doenças;
c) dispor de literatura sobre as pragas e doenças do cultivo. Por exemplo, verificar quais as pragas e doenças do trigo ocorrem no Brasil e realizar o levantamento sistemático de quais as pragas e doenças da cultura ocorrem na região e em que época do ano, ou seja, executar a vigilância fitossanitária;
d) verificar a importância econômica dos danos causados à produção pelas pragas e doenças, que também deve ter uma distribuição regional razoavelmente uniforme. Por exemplo, no caso da requeima da batata e do tomate, causada pelo fungo Phytophthora infestans, se 75% dos folíolos apresentar uma lesão aos 60 dias após o plantio, a perda esperada será de 50 a 100% na produção; se isto ocorrer aos 90 dias, a perda será de 20%; porém, se um mês antes da colheita o nível de ataque corresponder a menos de 75% das folhas, a perda será de 5% na produção;
e) conhecer profundamente a biologia e o ciclo evolutivo das pragas e doenças;
f) conhecer a influência das condições climáticas sobre a evolução das plantas e seus parasitas;
g) dispor de dados meteorológicos precisos;
h) conhecer a eficiência e a duração dos agrotóxicos no meio ambiente. Ex.: determinados produtos (clorados) são mais eficientes contra insetos em temperaturas mais baixas (15 ºC) ao passo que com outros (organofosforados) dá-se o oposto.
i) conhecer e dominar as técnicas de defesa fitossanitária e tê-las à disposição para um controle eficiente e econômico. Ex.: equipamento adequado, produto específico, condições climáticas favoráveis (vento com velocidade inferior a 2,0 m.s¹, temperatura menor que 27 ºC).
O resultado de todas essas informações é o "Aviso Fitossanitário" emitido por uma Estação Central após criteriosa análise.
A Estação de Avisos Fitossanitários tem funções semelhantes à uma Estação Meteorológica, dela diferindo por acrescentar às suas atividades estudos sobre a biologia, fenologia e climatologia do agroecossistema, enriquecidos por informações oriundas de Postos Secundários instalados em algumas lavouras da região. Tais informações são processadas e repassadas aos produtores de forma compreensível através dos meios de comunicação.
Os sistemas de previsão agrometeorológica de doenças e pragas disponíveis foram desenvolvidos para culturas de clima temperado como a macieira, a nogueira, o pessegueiro, a batata, e podem ser utilizados para a Região Sul do Brasil sem muita necessidade de adaptação. Ao passo que, para as demais regiões, enquanto não se dispõe de técnicas de previsão agrometeorológica adequadas, é aconselhável o manejo integrado de pragas através do monitoramento.
Portanto, há necessidade de cooperação mútua entre agrometeorologistas, fitopatólogos, entomólogos, fitossanitaristas, ecólogos, extensionistas rurais e produtores para se chegar a um sistema de previsão agrometeorológica de pragas e doenças dos vegetais adaptado a uma região específica.
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